Assim começa a desinformação e o alarme
Há uma ideia generalizada de que o alarme e o pânico massivo são resultado de uma reacção súbita e directa a uma ou mais notícias falsas. É evidente que isso acontece muitas vezes, mas há efeitos acumulados ao longo do tempo que tornam essa reacção mais forte e difícil de controlar. Na origem desses efeitos está, quase sempre, a acção negativa dos media, através da divulgação de rumores ou de informações factualmente erradas. Também quase sempre, essa divulgação não é intencional ou um acto de má fé. Trata-se, apenas, de desconhecimento da realidade, ou seja, de mau trabalho jornalistico.
O “Correio da Manhã” noticiava ontem que dois cientistas chineses “lançaram um alerta para um novo vírus que pode originar um problema sanitário”. Problema esse que seria “uma nova pandemia”, como “acontece sempre há milhares de anos”.
Acontece que nem o vírus é novo – é o H5N8 conhecido há décadas – nem o problema sanitário é mais grave do que tem sido nos últimos 40 anos. (João Alferes Gonçalves)
O H5N8 é o vírus da gripe aviária, responsável pela morte anual de milhões de aves, e até janeiro não era conhecido nenhum caso de contágio humano.
Em janeiro foram detectados na Rússia sete casos de contágio em trabalhadores que estavam em contacto com aves, mas as autoridades de saúde afirmaram que os sintomas eram ligeiros. Mais tarde admitiram que poderia existir transmissão entre humanos, mas não há nenhuma confirmação científica.
As questões de saúde pública exigem uma informação verídica e rigorosa, para que a população adopte comportamentos responsáveis. Não é com alarmismos e sensacionalismos que isso se consegue.
O eventual perigo de uma epidemia de gripe (qualquer que seja o agente) em cima da covid-19 tem sido, aliás, mencionado há meses pelos especialistas.
Reproduzo a seguir a (curta) notícia do “CM” e o link para a notícia da edição brasileira do “El País” que explica muito bem tanto o perigo do H5N8 como a história dos “milhares de anos”.
João Alferes Gonçalves
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