Um hilariante momento na SIC-N, na terça-feira, tornou-se viral na internet, quando as redes sociais começaram a partilhar a brilhante conclusão do jornalista que descobriu haver um prazo de validade em todas as obras de Eduardo Lourenço. Como é costume em circunstâncias semelhantes, toda a gente zurziu no autor da descoberta, provavelmente por ele se chamar Reinaldo Serrano. Não têm conto as vezes que já vi sapateiros quererem tocar rabecão sobre matérias onde o erro é mais gravoso para a opinião pública, sem que ninguém se atreva a gozar com um disparate de Miguel Sousa Tavares sobre vacinas ou de Paulo Portas sobre as variações do preço do petróleo. (JAG)

A esta dança não poderia faltar o “Correio da Manhã”, que tem um historial nada invejável de dislates, como o da existência de uma força de sanguinários golfinhos comunistas, equipados com um arpão para atacar a marinha dos EUA no Índico !!! Tenho um screenshot dessa “notícia”, aviso já.

É certo que Reinaldo Serrano quis tocar rabecão quando se pôs a analisar os textos de Eduardo Lourenço, mas eu preferia que os exigentes comentadores se debruçassem sobre o facto de a notícia do falecimento de Eduardo Lourenço não ter caído de imediato sob a alçada do editor de cultura da SIC. A menos que não exista tal figura e aí entramos noutro domínio.

Enquanto se trocam piadas sobre um fait divers do jornalismo, estamos a passar ao lado de coisas como a existência, na RTP, de um vasto e valioso conjunto de conversas com personalidades relevantes da vida cultural (escritores, músicos, actores, etc), deixadas ao abandono no arquivo e, provavelmente, condenadas a nunca serem adequadamente tratadas. Só porque estão nas mãos de sapateiros que nunca tocarão rabecão.

João Alferes Gonçalves

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