O jornalista José Saramago
José Saramago não foi jornalista na acepção total do termo. Nos dois anos em que esteve no “Diário de Lisboa” não trabalhou como repórter nem passou o tempo a redigir notícias. O seu trabalho foi comentar a actualidade e deixar para os historiadores do futuro um conjunto precioso de editoriais magistralmente escritos e jornalisticamente rigorosos. Textos que estão publicados em livro sob o título «As Opiniões que o DL Teve» e que enobrecem o jornalismo português.
O perfil de José Saramago como jornalista não difere, obviamente, do do escritor e do político, todos eles coexistentes num homem de convicções firmes, de grande frontalidade, defensor dos fracos e um lutador incansável pela evolução da humanidade.
O jornalista José Saramago
Nestes dias, muitos ficaram a saber muita coisa sobre José Saramago: Pormenores da infância, curiosidades da sua vida privada, fragmentos do escritor, as datas e circunstâncias em que disse tal ou tal frase. Foram ainda muitos os que ficaram a saber que Saramago tinha sido jornalista. Terão ficado?
Todas as referências ao passado jornalístico de José Saramago que li ou ouvi nos obituários limitam-se ao episódio do despedimento de um grupo de jornalistas do “Diário de Notícias”, que nunca foi adequadamente explicado à opinião pública e que, agora, aparece totalmente descontextualizado. E com erros, pois Saramago nunca foi director do jornal, mas sim director-adjunto.
Quem viveu esses acontecimentos – de qualquer dos lados – tem a obrigação ética de os relatar com verdade. É necessário que cada um assuma as suas responsabilidades e não deixe cair sobre os ombros de José Saramago as culpas que ele não tem. Porque as dele sempre as reclamou e não deixaria jamais que fossem atribuídas a terceiros.
Diga-se, com clareza, que a suspensão dos 24 foi votada em plenário e de braço no ar.
Agrilhoar a qualidade de jornalista de Saramago a um capítulo mal contado da história dos media em 1974/75 é, além de desproporcionado, desonesto.
José Saramago não foi jornalista na acepção total do termo. Nos dois anos em que esteve no “Diário de Lisboa” não trabalhou como repórter nem passou o tempo a redigir notícias. O seu trabalho foi comentar a actualidade e deixar para os historiadores do futuro um conjunto precioso de editoriais magistralmente escritos e jornalisticamente rigorosos. Textos que estão publicados em livro sob o título «As Opiniões que o DL Teve» e que enobrecem o jornalismo português.
O perfil de José Saramago como jornalista não difere, obviamente, do do escritor e do político, todos eles coexistentes num homem de convicções firmes, de grande frontalidade, defensor dos fracos e um lutador incansável pela evolução da humanidade.
Não era um santo (Quem o é?) e tenho a certeza de que não lhe agradaria nada que o pintassem com uma auréola, mas era tudo o que um jornalista deve ser — eticamente inatacável, independente na opinião, rigoroso na escrita.
Quem o conheceu de perto não vai sentir a sua falta, porque a todos que o conheceram José Saramago tocou para a vida inteira.
João Alferes Gonçalves
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