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O jornalista José Saramago

20 de Junho de 2010


José Saramago não foi jornalista na acepção total do termo. Nos dois anos em que esteve no “Diário de Lisboa” não trabalhou como repórter nem passou o tempo a redigir notícias. O seu trabalho foi comentar a actualidade e deixar para os historiadores do futuro um conjunto precioso de editoriais magistralmente escritos e jornalisticamente rigorosos. Textos que estão publicados em livro sob o título «As Opiniões que o DL Teve» e que enobrecem o jornalismo português.

O perfil de José Saramago como jornalista não difere, obviamente, do do escritor e do político, todos eles coexistentes num homem de convicções firmes, de grande frontalidade, defensor dos fracos e um lutador incansável pela evolução da humanidade.

O jornalista José Saramago

Nestes dias, muitos ficaram a saber muita coisa sobre José Saramago: Pormenores da infância, curiosidades da sua vida privada, fragmentos do escritor, as datas e circunstâncias em que disse tal ou tal frase. Foram ainda muitos os que ficaram a saber que Saramago tinha sido jornalista. Terão ficado?

Todas as referências ao passado jornalístico de José Saramago que li ou ouvi nos obituários limitam-se ao episódio do despedimento de um grupo de jornalistas do “Diário de Notícias”, que nunca foi adequadamente explicado à opinião pública e que, agora, aparece totalmente descontextualizado. E com erros, pois Saramago nunca foi director do jornal, mas sim director-adjunto.

Quem viveu esses acontecimentos – de qualquer dos lados – tem a obrigação ética de os relatar com verdade. É necessário que cada um assuma as suas responsabilidades e não deixe cair sobre os ombros de José Saramago as culpas que ele não tem. Porque as dele sempre as reclamou e não deixaria jamais que fossem atribuídas a terceiros.

Diga-se, com clareza, que a suspensão dos 24 foi votada em plenário e de braço no ar.

Agrilhoar a qualidade de jornalista de Saramago a um capítulo mal contado da história dos media em 1974/75 é, além de desproporcionado, desonesto.

José Saramago não foi jornalista na acepção total do termo. Nos dois anos em que esteve no “Diário de Lisboa” não trabalhou como repórter nem passou o tempo a redigir notícias. O seu trabalho foi comentar a actualidade e deixar para os historiadores do futuro um conjunto precioso de editoriais magistralmente escritos e jornalisticamente rigorosos. Textos que estão publicados em livro sob o título «As Opiniões que o DL Teve» e que enobrecem o jornalismo português.

O perfil de José Saramago como jornalista não difere, obviamente, do do escritor e do político, todos eles coexistentes num homem de convicções firmes, de grande frontalidade, defensor dos fracos e um lutador incansável pela evolução da humanidade.

Não era um santo (Quem o é?) e tenho a certeza de que não lhe agradaria nada que o pintassem com uma auréola, mas era tudo o que um jornalista deve ser — eticamente inatacável, independente na opinião, rigoroso na escrita.

Quem o conheceu de perto não vai sentir a sua falta, porque a todos que o conheceram José Saramago tocou para a vida inteira.

João Alferes Gonçalves

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