Um lapso de um jovem jornalista da RTP está a fazer o circuito dos blogues dedicados ao futebol, para gáudio de quem não é adepto do Benfica. Num dos blogues vermelhos há, até, quem entenda que o jornalista está a pedir “uma carga”. O “Correio da Manhã” decidiu juntar-se à festa e amplificar o acidente de linguagem, mas sem ter em conta que tem trancas nos olhos bem maiores que o argueiro do jornalista da RTP. No próprio dia em que se faz eco dos “encornados”, o “CM” publica uma notícia que cilindra a inteligência do leitor. Muitas horas depois, juntou-lhe um video que repõe a verdade, mas até ao momento em que escrevo coexistem as duas versões: a correcta e a disparatada. (JAG)

Na notícia da morte de um homem de 29 anos que fazia a manutenção dos painéis solares de um sistema de aquecimento de água, o “CM” escreve que a vítima foi «atingida por um cilindro cheio de painéis solares».

Por quantas mãos passou esta notícia? Ninguém a editou? Nenhum editor do “CM” sabe que os painéis solares não são instalados dentro de cilindros?

O cilindro estava cheio, sim, mas de água, porque a sua função neste sistema de aquecimento de água é armazenar o líquido aquecido pelos painéis. A título de exemplo:

A troca ou transposição de sílabas é um fenómeno de natureza neurológica e não há profissional de rádio ou televisão a quem isso não tenha acontecido mais de uma vez. Por maioria de razão pode acontecer a um jovem com pouca experiência e debaixo do stress de um directo. O qual, diga-se, corrigiu instantaneamente o lapso

Que uma certa categoria de internautas se divirta com lapsos desse tipo, entende-se. Mas que um jornal decida expor um jovem profissional que sofreu um acidente na transferência do pensamento para a linguagem, por muito cómico que seja o resultado, escapa à minha compreensão. Em especial quando esse jornal alimenta o anedotário das notícias com alguma frequência, como se vê.

João Alferes Gonçalves

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