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“Os truques da imprensa portuguesa”

22 de Março de 2016


Há uma página no Facebook que se dedica a expor aquilo a que chama “truques da imprensa portuguesa”. O autor protege muito bem a sua anonimidade, mas os casos que publica são, em geral, factuais. Reproduzimos dois exemplos de hoje, aos quais não acrescentamos qualquer comentário. O primeiro caso é um historial da acção do ex-director do “Diário Económico”; o segundo é uma deplorável manifestação de incompetência jornalística.  O juizo fica ao critério do leitor.

Caso 1

Quem quer saber um pouco mais sobre os bastidores da imprensa portuguesa tem de ler este texto que hoje recebemos até ao fim. É uma denúncia extremamente informada e vista a partir de dentro sobre a falência do Económico e sobre António Costa, seu ex-director e consultor de Isabel dos Santos.

Um retrato chocante mas extremamente fiel e realista dos processos de poder na imprensa. Não é preciso concordar com tudo, mas a informação que aqui consta é muito útil.

“Foi com surpresa que hoje lemos a despedida do Diário Econômico das bancas. A falência de 26 anos de esforço de centenas de pessoas que por ali passaram.

Como lesados desta falência, pela falta que nos fará a leitura do Econômico, impõe a seriedade que contestemos a figura que, em vez do recato, preferiu uma vez mais a busca de protagonismo, num artigo de opinião em que rasga as vestes pelo projeto que, com o seu contributo negativo, ruiu.

Falamos do ex-diretor, Antonio Costa.

Entre as suas jogadas de bastidores desde que foi afastado do Economico está a preparação de um novo projeto eletrónico que necessita do espaço do Económico para se poder impor no mercado português. Logo, o novo projeto de António Costa beneficiará do fim do Económico.

Na ligação que construiu com a empresaria angolana Isabel dos Santos, Costa obteve já financiamento para o arranque. Com Daniel Proença de Carvalho tem tido conversas para agregar conteudos da Global Media, designadamente a absorçao do Dinheiro Vivo.

O homem de mão de Isabel dos Santos, ex-homem de mão de Rafael Mora e Nuno Vasconcellos, da Ongoing (através dos quais, segundo a imprensa, chegou a frequentar pelo menos uma reunião da Maçonaria) e também do ex-primeiro-ministro José Sócrates, estará agora mesmo de saída dos cargos em que se refugiou na TVI (manterá, segundo sabemos, apenas o lugar de comentador) para assumir a liderança da revista Forbes nas suas edicões de Portugal e da África que fala português. Uma ordem dada pela dona da licença para aqueles países, filha do presidente de Angola. Isabel dos Santos não permite a Costa continuar a beneficiar financeiramente do projeto sem assumir, em troca, responsabilidade.

No fundo, aquilo em que o ex-diretor e ex-administrador do Diário Económico se aperfeiçoou naquele projeto da Ongoing agora falido – sem que a comissão da carteira de jornalista ou a decência impedissem que um director de um media, jornalista com carteira profissional, fosse, além de diretor, igualmente parte ativa no negócio, tanto acompanhando campanhas de publicidade e eventos com grandes clientes, como dirigindo a equipa redatorial que acompanhava as atividades empresariais desses clientes.

Exemplo da incompatibilidade de que falamos, a forma como defendeu aguerridamente, em sucessivos editoriais, a fusão da Portugal Telecom com a Oi. E, depois, a venda da Meo aos franceses da Altice, negócio ruinoso que, num ano, levou à perda de 85% da empresa portuguesa (entretanto rebatizada Pharol) na bolsa de valores de Lisboa.

No Económico, Costa defendeu, artigo após artigo, acriticamente e em efeito de eco, a posição que o nosso conhecido Rafael Mora levou às assembleias-gerais da companhia.

No dia em que a fação de Rafael Mora venceu na polêmica AG (o espanhol, que antes de se incompatibilizar com o sócio Nuno Vasconcellos, se designava na imprensa como irmão do filho do imperio Rocha dos Santos), Costa recolheu-se na concha e não voltou ao tema. O Económico não mais fez editoriais sobre o tema, apesar da gravidade que tinha o fim da presença dos activos da PT para o futuro da empresa. Ao contrário do DE, os jornais seus concorrentes, os generalistas e as televisões dedicaram artigos de opinião ao fecho do negocio.

A saída de Costa do Economico tornou-se inevitável há um ano. Afastado, sem que alguma vez admitisse que não saiu pelo seu pé, (a página 7 do último Diário Econômico é exemplo da petulância e arrogância de quem se finge ainda parte do projeto – http://economico.sapo.pt/…/eu-serei-sempre-economico_245212…), Costa recebeu dezenas de milhares de euros para aceitar a saída. Sim, saiu com indenização de dezenas de milhares de euros.

Ao longo de vários anos, Costa recebeu um vencimento liquido mensal a rondar 10 mil euros (pelo acumular de funcões de diretor e administrador), teve um automóvel de serviço de classe alta (o qual, conta-se na empresa, foi levado pela financeira por falta de pagamento das mensalidades, tendo Costa pedido ao condutor do camião que colocasse a sua MB classe E no reboque longe da porta do jornal, de modo a que ninguém visse o carro de Costa a ser “confiscado”) e ainda um motorista durante alguns anos.

Há um ano, Costa não aceitou ser parte da solução. Não aceitou o afastamento. Antes, Costa permitiu-se exigir dezenas de milhares de euros (números não confirmados apontam para 100 mil euros) a uma empresa falida e já com dificuldade em pagar salários.

Dificuldade que se tornou impossibilidade, levando, ao cabo de 3 meses de salários em atraso para centena e meia de trabalhadores, ao fim da vida do projeto que os jornalistas reivindicam como líder do segmento na banca e na internet.

Para que mais um pouco da verdade seja conhecida, ficam estas palavras de um a partir de segunda-feira leitor do Diário Económico.”

 

Caso 2

Correio da Manha TV, Sic Notícias e TVI 24 passaram a manhã a transmitir imagens de um atentado em Moscovo, em 2011, como se fosse relativas ao atentado de hoje, em Bruxelas.
Essas imagens começaram hoje a circular no twitter logo após as primeiras notícias e alguns dos nossos jornalistas, sempre expeditos nestas coisas, não tardaram em pegar na sua preguiçosa cana de pesca.
O problema é que saiu lixo, mais uma vez. E o lixo que sai é o lixo que nos atiram à cara.
Felizmente, o Le Monde publicou entretanto uma lista de material falso em circulação: http://www.lemonde.fr/les-decodeurs/article/2016/03/22/bruxelles-des-images-erronees-circulent_4887588_4355770.html

 

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5 Comentários »

  • José Ramalho said:

    É bom saber que existem jornalistas preocupados com a qualidade do trabalho jornalístico que nos é impingido.
    A bem da vossa profissão, continuem…

  • Hugo Rodrigues said:

    Se o código deontológico dos jornalistas fosse levado à risca, a classe profissional de jornalistas não existia, os jornalistas não são independentes, não dizem toda a verdade, inventam, mentem, não relatam factos, inventam histórias.

  • João Alferes Gonçalves (author) said:

    Segundo essa lógica, os padres são todos pedófilos, os médicos são todos negligentes e os comentadores de páginas web têm todos um CI muito baixo (JAG)

  • Hugo Rodrigues said:

    O problema dos Truques da Imprensa Portuguesa, nem sempre são sérios e usam a página não para falar dos truques mas sim para defender o governo em funções e os partidos que apoiam o governo.

    A ultima mentira deles foi publicada ontem, diziam eles que os jornais desportivos não davam mérito á Telma Monteiro pela conquista da medalha de bronze, falavam mais da vitória da selecção de futebol contra as Honduras. Porque é mentira? Portugal jogou contra as Honduras no Domingo, a Telma ganhou a medalha de bronze ontem à tarde, como os jornais desportivos e não só, só tem uma edição, de manhã, é lógico que não podiam falar sobre a conquista da medalha de bronze. Eu quando vejo uma mentira, denuncio, apareceu o senhor LÁPIS AZUL, apagou o meu comentário e bloquearam-me, assim se vê a mediocridade e falta de seriedade daquelas pessoas, que não dão a cara, cobardes.

  • Hugo Amaro said:

    Muita gente por aqui e por aí devia aprender com a página dos truques.

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