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Morreu o jornalista Fernando Pires

24 de Maio de 2015


Fernando Pires foi jornalista do DN durante 55 anos. Morreu este domingo de madrugada, aos 83 anos.

Fernando Pires, jornalista do DN durante 55 anos, onde foi chefe de redação, morreu hoje de madrugada no hospital de S. José aos 83 anos, confirmou fonte da família ao DN. Fernando Pires lutava há 11 anos contra o cancro, tendo perdido a batalha este domingo, a duas semanas de completar 84 anos – o seu aniversário seria a 3 de junho.

Durante mais de meio século trabalhou no DN, onde exerceu as funções de chefe de redação, editor executivo e diretor interino. Era secretário-geral do jornal em 2004, ano em que se reformou.

“Tinha um ar duro”, recorda Vítor Martins, editor do Dinheiro Vivo, que trabalhou com o “chefe Pires”, como era conhecido, na redação do DN. “Era um homem que achava que tinha de manter a disciplina, tinha um ar fechado quando atravessava a redação. Mas no convívio não era nada assim”.

Fernando Pires começou a trabalhar no Diário de Notícias com tenra idade, mas o DN “era a vida dele, a paixão dele”, diz o atual editor do suplemento de economia. “Era um homem reto, à antiga”. Quando cessou funções como editor, passou a dedicar-se a outra das suas paixões, a música clássica, tendo escrito inúmeras críticas para a secção de Artes do DN.

“Conheci o Fernando Pires em 1992”, recorda Leonídio Paulo Ferreira, atual editor executivo do DN. “Todos lhe chamavam de ‘chefe’, pois tinha liderado a redação durante décadas. Era a memória viva do DN e disso deu conta depois em dois livros. Recordo-me de falarmos sobre columbofilia, interesse que partilhávamos, e de o ouvir dissertar sobre ópera, em que era um expert“.

Na redação do Diário de Notícias seguiram-lhe as pisadas o filho, o jornalista Silva Pires, que chegou ao DN em 1971 e cuja chefia de redação integrou durante 25 anos – para além de ter estado envolvido em inúmeros projetos editoriais relacionados com o sector automóvel – assim como o neto, Tiago Silva Pires, que trabalhou como jornalista na secção de desporto do DN, tendo saído do jornal em 2014. “Sou jornalista graças ao meu avô”, recorda. “Ele era o meu exemplo de vida, apesar de não querer que eu fosse jornalista, porque já o meu pai tinha seguido esse caminho. Foi por isso que estudei Direito, mas cresci no Diário de Notícias, tornei-me jornalista”.

Tiago Silva Pires, que se cruzou no DN – para onde entrou em 2004 – com o pai e com o avô, à época secretário-geral do jornal, lembra-se da sua capacidade de liderança e do respeito que todos tinham pelo “chefe”. “Corrigia-me os textos, ajudava-me sempre”, aponta o terceiro da geração.

O filho, Silva Pires, não esquece que “do primeiro ao quarto piso do Diário de Notícias, todos lhe chamavam chefe”.Era “um homem difícil”, reconhece, mas que “sabia dar a mão e pedir desculpa quando tinha procedido mal”. Quando assinalou os 50 anos de trabalho no Diário de Notícias, foi aplaudido de pé e considerado “a referência do DN”, diz Silva Pires. “Fez muito pela divulgação e acompanhamento da música clássica”, destaca, “era de uma sensibilidade extrema, muito exigente, rigoroso e profissional. O DN, diz o filho, mais do que um emprego, “era a casa dele”.

Maria de Lurdes Vale, antiga chefe de redação do Diário de Notícias, trabalhou com o chefe Pires quando entrou para o jornal como estagiária. Tinha 23 anos quando o conheceu e ainda hoje se recorda de como a exigência de Fernando Pires lhe marcou o início de carreira. Os estagiários “eram chamados ao gabinete e, durante uma semana, dizia-nos que escrevêssemos como se fosse para o jornal”. Maria de Lurdes de Vale ficou incumbida de escrever na secção de necrologia porque, dizia-lhe Fernando Pires, “um grande jornalista tem de saber fazer necrologia”. Os textos, que lhe entregava no final da semana de trabalho, eram-lhe devolvidos à segunda-feira “todos corrigidos”.

“Era uma pessoa que sabia tudo do jornal, não só dos aspetos técnicos mas também dos temas, da atualidade. Era um grande mestre, uma pessoa com quem se aprendia muito numa altura em que os jornais se começavam a escrever às seis da tarde e terminávamos às duas da manhã. Fez escola no DN”, realça. Por trás do ar duro, que o tornava “um chefe temido”, Fernando Pires era “um ser humano extraordinário, de imensa ternura. E um melómano”, aponta Maria de Lurdes Vale, que recorda os momentos em que Fernando Pires se “fechava no gabinete a ouvir ópera”.

Além do DN, Fernando Pires trabalhou ainda na rádio, como relator desportivo, no Rádio Clube Português, Rádio Renascença e Emissora Nacional, tendo ainda colaborado com a RTP – foi um dos primeiros rostos da informação desportiva. Colaborou igualmente com a Antena 2, em programas de música clássica e coordenou a coleção ‘Óperas Imortais’.

Fernando Pires foi ainda presidente da Casa da Imprensa durante 20 anos e escreveu dois livros – Os meus 50 anos no Diário de Notícias, lançado em 2012, e O Nosso DN – Memória do Tempo, em 2014. No primeiro, recordava as diferentes fases do DN, com direções desde Augusto de Castro a José Saramago, Cunha Rego, Mário Mesquita e Mário Bettencourt Resendes. No segundo livro, convidava os leitores a uma “viagem pelos caminhos da memória”, compilando os registos de uma redação que começou no masculino, num pequeno gabinete, e cresceu até se tornar referência no panorama da comunicação social portuguesa.

O corpo de Fernando Pires será velado a partir da tarde de segunda-feira na igreja de S. João de Deus, na Praça de Londres, em Lisboa. O funeral realiza-se terça-feira.

“DN”, 24 maio 2015

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