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A propósito de notícias, debates e comentadores

27 de Abril de 2015


Desde há muito que tenho para mim, como jornalista e cidadão, que os órgãos de comunicação social (OCS) deixam no esquecimento muita coisa que deveriam divulgar – enquanto divulgam muita, mas mesmo muita matéria, que deveria ser de imediato arquivada no caixote do lixo.
Claro, também sei que a questão é muito complicada e difícil, tal o volume de notícias ( e não notícias) que chega aos OCS, os poderosos interesses em jogo e a cada vez maior escassez de recursos humanos e técnicos nas redacções.
Mas que diabo, não faria mal a ninguém e, ao contrário, faria muito bem aos jornais e à comunidade, que houvesse um pouco mais de atenção, arrojo e sabedoria na selecção do que acontece e do que se diz por esse país fora. Como faria muito bem a todos nós que não se desse voz sempre aos mesmos, cujas opiniões já se conhecem mesmo antes de abrirem a boca – e que, fugindo à rotina, se olhasse para além do círculo de amigos e correligionários. (RC)

E já que, hoje, o futebol profissional ocupa lugar de leão nas notícias e programações dos OCS, os responsáveis pela informação deveriam, pelo menos, aprender alguma coisa com as técnicas dos patrões do futebol. Por exemplo, os leitores dos jornais desportivos sabem bem que não há clube grande que não tenha os seus olheiros espalhados pelos quatro cantos do mundo a descobrir talentos. Uma tarefa inteligente que dá, quase sempre, excelentes resultados.

O drama é que, nos dias que correm, nos jornais não só não há olheiros como, pelo contrário e ao que desconfio, andam quase todos ceguinhos – porque não vêem ou não querem mesmo ver.

Vou dar um exemplo que me é caro: conhecem o coronel David Martelo, militar que esteve na primeira linha do 25 de Abril, homem de cultura e ideias claras, que ao longo destes últimos 40 anos publicou vários livros sobre História ao mesmo tempo que, por paixão, traduziu e prefaciou as três principais obras de Maquiavel (‘O Príncipe’, ‘Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio’ e ‘A Arte da Guerra’), bem como a ‘História da Guerra do Peloponeso’, de Tucídides?

Provavelmente não conhecem. E por isso não sabem o que perdem – porque veriam como valeria a pena ouvi-lo discorrer sobre temas históricos ou sobre questões do actualidade. Sempre pronto a debater e a fundamentar com vivacidade os seus pontos de vista. Que é o que se deve esperar de debates em espaços públicos, onde lamentavelmente proliferam, ‘ad nauseam’, as conversas de chacha.

E contudo, ele, como certamente muitos outros cidadãos, anda discretamente por aí, sempre activo e participativo, produzindo com grande qualidade e clareza textos sobre temas da História mas também do presente, os quais não deviam ser conhecidos apenas nos círculos científicos, culturais e/ou associativos.O grande público muito teria a ganhar lendo as suas prosas ou ouvindo as suas opiniões. Mas aposto, dobrado contra singelo, que nunca nenhuma televisão ou rádio o contactou até hoje para participar em debates. Devendo eu, no entanto, confessar que não sei se ele aceitaria… Apesar de o conhecer desde os tempos em que ambos, no Porto, frequentávamos o Liceu Alexandre Herculano.

E chegado aqui, remeto os eventuais leitores interessados para a mais recente alocução pública do coronel David Martelo, proferida no Porto por ocasião do convívio de oficiais comemorativo do 41º aniversário do 25 de Abril, intitulada “Um novo 25 de Abril”. À fé de quem sou, juro que vale a pena.

Ribeiro Cardoso

 > > > > > > > > > > > > >   Um novo 25 de Abril (pdf)

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