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Crise nos media dominou discursos na entrega dos Prémios Gazeta

6 de Janeiro de 2024


Marcelo Rebelo de Sousa apelou a um pacto de regime que permita viabilizar a sobrevivência de uma comunicação social livre, forma de escrutínio essencial para a democracia.

O prémio Gazeta de Mérito foi atribuído a Ana Sousa Dias, Pedro Caldeira Rodrigues e Miguel Carvalho ganharam ex aequo o prémio Gazeta de Imprensa, Amélia Moura Ramos foi galardoada com o Gazeta de Televisão, o Gazeta de Rádio foi atribuído a Paula Borges, Inês Rocha recebeu o Gazeta de Multimédia, o Gazeta de Fotografia foi para João Porfírio, o Gazeta Revelação para Daniel Dias e o Gazeta de Imprensa Regional foi atribuído ao Mensageiro de Bragança. Fotografia: Inácio Ludgero

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“Isto não está mal, está muito mal – e é fundamental olhar para [a crise dos media] enquanto é tempo”, frisou o Presidente da República na cerimónia da 38.ª edição dos Prémios Gazeta, que decorreu na sexta-feira, 5 de janeiro, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Lisboa, distinguindo a excelência no jornalismo nas categorias de Mérito, Revelação, Televisão, Imprensa, Rádio, Multimédia, Fotografia e Imprensa Regional.

“Este é o momento”, e a poucos dias do 5.º Congresso dos Jornalistas, “de chegar a entendimentos de regime sobre esta matéria”, afirmou o chefe de Estado, frisando que há muitos anos que se “repetem os diagnósticos, e a situação piora, vai piorando… e depois é rigorosamente irrecuperável”.

O Presidente acrescentou não estar pessimista, mas sim realista – “e o realismo impõe que não se demore mais tempo, que não se encontre solução nos 42.º ou 44.º Prémios Gazeta, que é capaz de já ser tarde”.

No final do seu discurso, Marcelo reforçou o apelo: “Espero que para o ano nos encontremos sem estes despedimentos, sem estes não pagamentos de salários, sem esta indefinição em que ninguém é responsável… não é o proprietário, não é o gestor, não é o financiador, não é ninguém com responsabilidades administrativas, morreu solteira a culpa. Às tantas só falta dizer que os responsáveis são os jornalistas, porque quiseram ser jornalistas e escolheram a porta errada.”

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, anfitrião desta iniciativa do Clube de Jornalistas, felicitou os premiados reforçando também como o jornalismo livre é essencial para a democracia: “Um jornalismo autêntico, como o que vimos aqui hoje, feito por aqueles que ganharam os prémios.”

A situação precária em que se encontra a comunicação social em geral, e nomeadamente a que se vive agora no Global Media Group, foi também abordada nos discursos de todos os premiados.

Maria Flor Pedroso, presidente do Clube de Jornalistas. Fotografia: Inácio Ludgero

O júri dos Prémios Gazeta apreciou nesta edição cerca de 90 candidaturas de elevada qualidade, prova da dinâmica que, resistindo à crise, o jornalismo conserva, e deliberou atribuir os seguintes galardões:

  • Prémio Gazeta de Mérito – Ana Sousa Dias, detentora de uma sólida carreira jornalística, que deixou a sua marca em diversos meios. Estreou-se no Vida Rural, passou por diversos jornais – Diário de Notíciaso DiárioExpressoPúblico e Jornal de Notícias – e pela Agência Lusa. O programa de entrevistas “Por outro lado”, distinguido com o Gazeta em 2003, representou a sua estreia em televisão. Assinou, também, trabalhos na Antena 1 e Antena 2, RCP e TSF. Atualmente, exerce funções de provedora do telespetador da RTP.
  • Gazeta de Televisão – Amélia Moura Ramos, graças à reportagem “A roupa dos brancos mortos”, emitida no Jornal da Noite da SIC de 12 de maio de 2022. O trabalho, levado a cabo no Gana e em Portugal, revela o circuito do vestuário que depositamos para caridade. A transação de roupa que o Ocidente deita fora tem muito para desvendar. Paulo Cepa (repórter de imagem), Luís Gonçalves (editor de imagem), Pedro Morais (grafismo), Diana Matias e Ângela Rosa (produção editorial) integraram a equipa de reportagem.
  • Gazeta de Imprensa – Miguel Carvalho e Pedro Caldeira Rodriguesex aequo. O primeiro assinou na revista Visão uma corajosa reportagem – “O braço armado do Chega”, publicada em 17 de novembro de 2022 – sobre a militância de profissionais da PSP e da GNR no partido, legalmente proibida. Pedro Caldeira Rodrigues, da Agência Lusa, é autor de um conjunto de reportagens sob o título genérico “Chove em Kiev”, sendo as primeiras anteriores à invasão russa, fundamentais para contextualizar a situação e compreender a natureza do conflito.
  • Gazeta de Rádio – Paula Borges, por “Na arte de resistir – Somos Moçambique”, reportagem emitida pela RDP África a 2 e 4 de novembro de 2022, centrada na identificação das soluções para a recuperação de zonas afetadas por catástrofes naturais e conflitos. Da equipa, que visitou várias regiões do país, fizeram também parte o jornalista moçambicano Orfeu de Sá Lisboa e o sonorizador Paulo Cavaco.
  • Gazeta de Multimédia – Inês Rocha, autora de “Quis saber se o RGPD funciona. Então, fiz ‘download’ da minha vida”, trabalho publicado pela Rádio Renascença em 19 de abril de 2022. “Onde andam os nossos dados? Que dados as empresas guardam sobre nós? Até onde nos leva a nossa pegada digital?” – eis as questões suscitadas na investigação, que implicou o contacto com mais de 70 entidades.
  • Gazeta de Fotografia – João Porfírio, do Observador, pelo conjunto de imagens enquadradas na reportagem “Ucrânia – Os primeiros 75 dias de guerra”, divulgadas entre 24 de fevereiro e 13 de junho de 2022, acompanhando a par e passo a fase inicial do conflito bélico com a Rússia, ainda em curso.
  • Gazeta Revelação – Daniel Dias, autor do texto da reportagem “Há caçadores de água da neblina que querem criar novas florestas em Portugal”, publicado a 10 de novembro de 2022 no Público, sobre um projeto ibérico centrado na recuperação de territórios afetados por incêndios, que está a ser desenvolvido em Carregal do Sal. A fotografia e o vídeo são da autoria de Tiago Bernardo Lopes.
  • Gazeta de Imprensa Regional, atribuído pela Direção do Clube de Jornalistas – Mensageiro de Bragança, semanário diocesano regionalista fundado em 1 de janeiro de 1940, que se institui como veículo de ligação à comunidade transmontana residente na cidade, noutras zonas do país e no estrangeiro. 

O Júri dos Prémios Gazeta 2022 teve a seguinte composição: Eugénio Alves (CJ), que presidiu, Cesário Borga (CJ), Eva Henningsen (Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal), Elizabete Caramelo (professora universitária), Fernando Cascais (professor universitário e formador do Cenjor), Jorge Leitão Ramos (crítico de cinema e televisão), José Rebelo (professor emérito do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa), Inácio Ludgero (fotojornalista), Dina Soares (Jornalista) e Paulo Martins (jornalista e professor universitário).

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