Amanhã é dia 5 de outubro. É o dia em que uns inventivos da história, monárquicos porque sim, entenderam que devem passar ao lado da comemoração da implantação do regime republicano, de escolha dos representantes por outros métodos que não o da herança, apresentam como facto notável a assinatura do Tratado de Zamora. Facto de grande relevo! Isto segundo os nobres herdeiros e filhos de algo (que o resto é filho do nada).

Ora o tratado de Zamora assinado entre os primos Afonso Henriques e Afonso VII de Leão, ambos filhos de um borgonhês e de uma leonesa, resultou de um torneio medieval que ficou conhecido como o Recontro de Arcos de Valdevez, que não chegou a ser uma batalha. Isto em 22 de Setembro de 1143 – segundo o calendário juliano em vigor na altura.

Apenas em 1582 se passou a utilizar o atual calendário gregoriano em que esse dia corresponderá por tabela de equivalências a 5 de outubro. Acontece que Afonso Henriques usava o titulo de rex desde 1139 e que a autoridade internacional reconhecida pelas duas partes para determinarem a soberania de um território, o papado de Roma, só reconheceu a Afonso Henriques o titulo de soberano, isto é de vassalo direto de Roma, em 1179.

A 22 de Setembro de 1143, segundo o calendário da época, 5 de outubro segundo o atual, gregoriano, estabeleceram-se pazes entre primos, em que um já usava o título de rei (Afonso Henriques) e o outro o de imperador. Só 36 anos depois, a ONU da época reconheceu a independência do antigo condado portucalense, com território tendo fronteiras a norte no rio Minho, a sul entre o Mondego e o Tejo (a cargo dos templários, em boa parte) e a Leste com uma larga faixa de terras em disputa.

Assim vai a história de Portugal na interpretação livre da fidalguia portuguesa mais ferrenha. Presumo que abrirão uma petição para retirar o ensino da História do currículo das escolas.

Carlos Matos Gomes – Facebook – 4 outubro 2020

 Imprima esta página