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Era um regalo vê-lo em acção

14 de Fevereiro de 2015


Esta partida é daquelas que doem a sério. Conheci o Daniel Ricardo em 1970, já lá vão quase 45 anos. Foi na Escola Secundária Francisco Arruda, onde eu dava aulas e ele, já jornalista, era “apenas” visita regular, casado que estava com a Maria Manuel, filha de Calvet de Magalhães, o inesquecível director daquele estabelecimento de ensino onde então, discretamente, nasciam os caboucos do que havia de ser o Sindicato dos Professores.

Ficámos amigos desde logo – mas a partir de 1976, ao partilharmos a redacção de “o diário”, essa amizade aprofundou-se e tornou-se também admiração. Era um regalo vê-lo em acção: incorrigível fumador, corrigia, sem alarde mas com enorme eficácia, as muitas prosas que lhe iam caindo na secretária da chefia de redacção – quantas vezes ao mesmo tempo em que atendia os mais desvairados telefonemas.

Vieram depois outros tempos e lugares.

O Cenjor, por exemplo, onde deu largas à sua capacidade de ensinar e de criar laços com os mais novos.

Mas também o Clube de Jornalistas: quando a morte chegou ele continuava a ser o nosso Presidente do Conselho Fiscal, cargo que exercia há longos anos. Mas não só: retenho com nitidez muitas das suas abalizadas opiniões enquanto membro do Conselho Editorial do programa televisivo “Clube de Jornalistas” que durante 5 anos mantivemos no ar na RTP2.

Na verdade, sabia bem falar e conviver com o Daniel, jornalista que conhecia como poucos a profissão que a todos nos apaixonava. Uma profissão maior que não tinha segredos para ele: conhecia-a por dentro e por fora, na prática e na teoria, como se pode comprovar pelos cargos que exerceu e pelos excelentes livros de estilo que deixou nos jornais e revistas por onde passou. Ou pelos livros de divulgação, onde brilha o excelente “Ainda bem que me pergunta”, o primeiro manual de escrita jornalística editado em Portugal.

Workaholic, por natureza e necessidade, Daniel andava sempre numa corrida contra o tempo, tendo sido, na Comissão da Carteira Profissional dos Jornalistas, para onde foi eleito em sucessivos mandatos em representação da classe, um exemplo de trabalho dedicado e competente.

Mas a dimensão do Daniel não era apenas técnico-profissional. E essa talvez fosse uma das suas mais valias: ele não era, não podia ser, um homem de uma nota só. Amava a família, amava a sua profissão, gostava e usufruía da noite e da vida. Tinha um coração, uma arte e uma força tão grandes que tudo conseguia conciliar.

Um amigo que foi – mas que fica dentro de nós para sempre.

Ribeiro Cardoso

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