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O PCP come velhinhos ao almoço (Ana Sá Lopes)

Depois das crianças ao pequeno-almoço, chegou a altura de denunciar que os comunistas passaram a um estádio superior de luta: comem velhinhos ao almoço. Pelo menos é o que parece do consenso nacional – a atentar no que se vai ouvindo nas televisões – que aproveitou a realização da Festa do Avante! para exorcizar uma espécie de “culpa nacional” pela propagação do vírus.

Percebe-se que o pavor que tomou conta da população portuguesa possa ter contribuído para uma parte do desejo de varrer o Avante! do mapa político nacional. Mas vejamos: esse pavor (que existe) não foi visto quando “milhares” de peregrinos (é a informação oficial) acorreram no dia 13 de Agosto ao Santuário de Fátima. Esse pavor também não tem sido visto nas praias [1]. Ninguém dá pelo pavor nas feiras do Livro de Lisboa e Porto [2]. Não é encontrado nos transportes públicos.

É preciso conhecer a Quinta da Atalaia para perceber a imensidão da propriedade onde o PCP organiza a sua festa – estamos a falar de 300 mil metros quadrados. É evidente que qualquer sítio pode ser transmissor do vírus mas isso é válido para todo o lado, rigorosamente, a partir do momento em que um cidadão põe o pé fora de casa, se a sua casa não estiver também infectada.

A verdade é que não vemos os críticos da Festa do Avante! a defender que se fechem as praias, se acabem com os espectáculos, os mercados, e muito provavelmente até acham bem (felizmente) que as escolas reabram em Setembro [3]. Portanto, uma parte desta irritação com o Avante! só pode explicar-se com uma irritação – inconsciente ou consciente – com o PCP que de certeza come velhinhos ao almoço enquanto bebe umas cervejolas e ataca umas bifanas nas barracas da Festa.

Felizmente foi possível retomar as celebrações religiosas de Fátima. Felizmente está a ser possível retomar alguma vida normal, não descurando os cuidados a que a grande maioria das pessoas se habituou. Os portugueses têm demonstrado uma enorme capacidade de contenção e de respeito pelas regras para tentar travar o vírus. Os militantes do Partido Comunista são dos mais “disciplinados” dos portugueses. Fazer da realização da Festa do Avante! um drama nacional é desproporcionado e, vá lá, um bocadinho ridículo.

Ana Sá Lopes – “Público” Editorial – 31 agosto 2020