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A pantalha e as moininhas

Os actuais pivôs de primeira linha começaram como segundas ou mesmo terceiras linhas. Não pensem que são carreiras lineares, exclusivamente ditadas pelo mérito. Envolvem, nalguns casos, muitos outros aspectos – jogos de poder, medição de forças, fidelidades caninas, traições, facadas a eito, bastas vezes muita manha, falta de carácter e até sexo. As cadeiras da apresentação são cobiçadas de uma forma doentia e muitos pivôs vigiam-se, entre si, de uma forma apenas imaginável na selva. Jogadas acompanhadas e sempre cobertas pelas direcções de Informação. (Waldemar Abreu)

A pantalha e as moininhas

Há trinta anos assisti, na RTP, a uma cena daquelas que não dá para esquecer. Um pivô foi retirado da apresentação. Desatou a chorar como uma “maria madalena”. Podia ter ido chorar para a casa de banho, para um local mais recôndito da redacção, ou ter feito um esforço e aguentar-se até chegar a casa. Não, foi mesmo no meio da redacção. E chorou de uma forma copiosa. O pivô em causa, apresentador de segunda linha, um homem já com alguma idade, estava, visivelmente, a sofrer de uma forma atroz. Ficou tudo atónito.

A pantalha afecta o discernimento de muitos dos nossos pivôs. Sejam homens ou mulheres.

Os actuais pivôs de primeira linha começaram como segundas ou mesmo terceiras linhas. Não pensem que são carreiras lineares, exclusivamente ditadas pelo mérito. Envolvem, nalguns casos, muitos outros aspectos – jogos de poder, medição de forças, fidelidades caninas, traições, facadas a eito, bastas vezes muita manha, falta de carácter e até sexo. As cadeiras da apresentação são cobiçadas de uma forma doentia e muitos pivôs vigiam-se, entre si, de uma forma apenas imaginável na selva. Jogadas acompanhadas e sempre cobertas pelas direcções de Informação. Aquilo é, genericamente, malta que gosta de aparecer na pantalha. É uma vida tranquila, mesmo muito tranquila, nalguns casos muito bem remunerada. Alimenta egos doentios.

Temos assistido, ultimamente, a comportamentos estranhos da parte de alguns pivôs, os quais começam, finalmente, a ser denunciados em alguns órgãos de comunicação social. Nunca se sabe quando é que um estúdio acaba transformado numa arena, num circo ou numa sala de espectáculos. Admito que, em casa, os telespectadores estejam muitos atentos, sempre à espera da maior das maluqueiras e que isso se transforme num aspecto aliciante. Viciante, mesmo. Estamos, na verdade, perante afrontas várias ao jornalismo, sob as mais diversas formas, incluindo os apartes, as considerações gongóricas, eternas, bem mais longas que as próprias respostas dos entrevistados, e a própria postura ameaçadora de um ou outro pivô.

Há pivôs que se acham acima de todos. Mais, acima de tudo. Estão cheios deles próprios. Melhor, fartos deles próprios. Andam naquilo há tanto tempo e de tal forma sem freio que perderam a noção do que fazem. O problema é ninguém lhes pôr travão. Já todos perderam a noção do ridículo, incluindo as direcções de Informação, as principais responsáveis pelo que se está a passar. Há bem pouco tempo tivemos na apresentação de um importante espaço noticioso, semana sim, semana não, alguém que não estava nada bem, em termos emocionais. Fizeram alguma coisa? Nada! Uma total falta de respeito pelos telespectadores. Mas, principalmente, uma enorme falta de respeito da hierarquia editorial pelo próprio pivô, que deveria ter sido de imediato retirado da função, assim se preservando a sua imagem e ajudando-o a cuidar da respectiva sanidade mental. Há mais pivôs a necessitarem de cuidados especializados. Estão à vista de todos.

A pantalha tolda-lhes as moininhas. Acreditem no que vos digo.

Waldemar Abreu – “Jornal de Barcelos” À coca