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O que os media portugueses escondem sobre a Ucrânia

4 de Maio de 2014


Os media andam, há meses, a vender a ideia de que o que se passa na Ucrânia é uma encenação da Rússia para se apoderar de parte, senão da totalidade, da antiga república soviética. Objectivo que os  EUA e a UE dizem querer contrariar com sanções conjuntas , como é o caso da restrição de entrada nos EUA a umas dezenas de políticos russos, o que os impede de passar umas semanas de férias em Miami. Devem estar preocupadíssimos.
Ao mesmo tempo, os media escondem que a crise político-militar na região foi detonada pelos EUA, com a colaboração da UE, cujo chefe executivo, o bufarinheiro Durão Barroso, se colocou, uma vez mais, ao serviço de Washington.
Mas o que os media escondem ao público, no essencial, é que a situação ucraniana lhe diz directamente respeito, quer pela factura económica que os portugueses irão ajudar a pagar, quer pelos mais gravosos custos de um eventual envolvimento directo da NATO no confronto militar que se anuncia.
No plano estratégico, são omissos quanto ao facto de os EUA estarem interessados no afundamento do euro e na implosão da União Europeia (daí o célebre “Fuck European Union”, da desbragada funcionária do departamento de Estado). Um olhar atento permite, também, concluir que os EUA não abandonaram o antigo conceito estratégico de conter um confronto militar com a Rússia no quadro de uma guerra nuclear táctica na Europa. (JAG)

O grau de descaramento na manipulação informativa está patente numa notícia do “Correio da Manhã” sobre os incidentes de Odessa, durante os quais mais de um milhar de activistas favoráveis ao governo ilegítimo de Kiev levaram duas centenas de cidadãos de expressão russa a refugiar-se num edifício, que atacaram depois com cocktails Molotov. Já está confirmada a morte de quatro dezenas de pessoas.

A “notícia” do “Correio da Manhã” (ver aqui) aldraba os leitores, com uma versão fantasista dos acontecimentos, em que coloca «separatistas pró-russos» a atacar «activistas antigovernamentais» (é uma dicotomia lobotómica, mas é assim que está escrito). Quem só lê os títulos também foi brindado com uma frase manipuladora: Ucrânia: Rebeldes matam 39 pessoas em incêndio.

É verdade que o tablóide de direita está a exceder-se a si próprio em matéria de propaganda e contra-informação, mas alguém aparentado com o jornalismo naquela redacção devia lembrar que há limites que não devem ser ultrapassados. Designadamente, os da inteligência.

Esta história do “Correio da Manhã” é um caso extremo, mas a desinformação sobre a Ucrânia é comum à generalidade dos media portugueses. A direcção editorial do “Público”, por exemplo, deu-se ao trabalho de redigir mais um editorial (ver aqui) que poderia ser intitulado “Vêm aí os russos”, sem que ninguém estranhasse o alerta. [Nota: No editorial escreve-se que a Rússia «exulta o seu poder». Em português limpinho, seria «exulta com o seu poder». A menos que se pretendesse dizer que a Rússia «exalta o seu poder»]

Pessoalmente, acredito que há mais órfãos da União Soviética nas redacções dos media do que no Partido Comunista Português.

A maior parte dos autores de comentários que se referem ao governo russo actual ainda não conseguiram superar os reflexos condicionados anticomunistas e tendem a identificar Putin com o poder soviético, desaparecido há um quarto de século.

Esquecem, ou ignoram, que Putin foi escolhido para suceder a Yeltsin, quando esta marioneta deixou de ser útil, e que o mais firme e consistente adversário de Putin na Rússia é o partido comunista.

Quem entender que está a ser ludibriado pelos media dominantes e quiser saber o que na realidade está em causa na Ucrânia, deve começar por ler outras opiniões e informações. A lista de links que se segue não é exaustiva, muito menos definitiva. É, apenas, uma sugestão.

João Alferes Gonçalves

 

PARA SABER MAIS SOBRE A SITUAÇÃO NA UCRÂNIA:

» Por qué estamos entrando de nuevo en la guerra fría? (Roberto Savio)
» Lo que no se está diciendo sobre Ucrania (Vicenç Navarro)
» El silenciado movimiento de tropas estadounidenses cerca de Ucrania (Vicenç Navarro)
» Cómo el establishment de EEUU quiere presentar mediáticamente lo que ocurre en Ucrania (Vicenç Navarro)
» Ukraine : les «preuves» américaines de l’implication russe sont-elles fiables ?
» Ucrânia e o grande tabuleiro de xadrez (Timothy Bancroft-Hinchey)
» On a sous-estime Poutine qui est un tacticien redoutable (Willy Claes)
» Crimea: Putin’s mission accomplished (PJ Crowley)
» Ukraine: The far-right groups patrolling Kiev
» Comunistas torturados por neo-fascistas em Maidan

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