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O complexo de ciber-espionagem e os seus idiotas úteis

2 de Julho de 2013


O facto mais seguro sobre o programa de espionagem global dos EUA é o de que a maior parte das pessoas não sabe do que se está a falar, nem dos efeitos possíveis sobre a vida de cada cidadão em todo o planeta. Há quem esteja totalmente a leste e há quem pense: isto é para detectar terroristas e, não sendo eu um terrorista, não tenho nada a temer.
Até ao dia em que se candidata a um posto de trabalho na filial de uma transnacional norte-americana em qualquer país e o lugar lhe é negado sem que saiba porquê. Mas a empresa sabe. Porque pediu o seu perfil aos serviços secretos dos EUA e recebeu uma radiografia completa da sua vida privada. (JAG)

E não é necessário que esse dossiê inclua a informação de que atropelou alguém porque ia a conduzir com 0,3 g de álcool no sangue ou que desviou algum dinheiro do cofre do seu ex-patrão. Basta, por exemplo, o registo de que retuitou a convocatória de uma manifestação contra o governo ou a citação do e-mail em que a sua ex-mulher o acusa de ser mentalmente instável.

Nesta altura, não faltará quem sorria condescendentemente, ou, até, quem diga: “este gajo está a exagerar”.

Pois é. Só que não se trata de uma previsão. Os vários serviços de informações dos EUA andam fazendo coisas deste tipo há dezenas de anos. Porque o complexo de ciber-espionagem é um conglomerado de interesses do aparelho de Estado dos EUA, dos militares e de um grande número de empresas associadas.

É assim que o define Barrett Brown, num artigo no “Guardian”,  cujo título é o que encabeça este “post”: The cyber-intelligence complex and its useful idiots.

Os idiotas úteis são gente como o cronista do “New York Times” Thomas Friedman, vencedor de vários prémios Pullitzer.

Friedman diz que as pessoas podem ter confiança nos espiôes com grandes poderes sobre as nossas comunicações. Brown observa, a propósito, que anteriores asserções de Friedman não resistiram à passagem do tempo, como a de que Putin levaria transparência e democracia liberal à Rússia ou que o governo chinês não tentaria limitar o livre acesso dos seus cidadãos à internet.

Barrett Brown lembra que esta é «uma época em que até as limitadas regras estabelecidas podem ser quebradas com impunidade pelos poderosos — enquanto jornalistas e activistas que as cruzam são sinalizados para destruição pelas alianças estado-empresas, armadas com ciber armas cada vez mais sofisticadas, técnicas de propaganda e autoridade de vigilância».

«Este é o mundo que aceitamos, se continuarmos a desviar os olhos. E ele promete tornar-se muito pior» — conclui Brown.

Pela parte que me toca, coloco o “link” para este artigo e mais dois debaixo dos seus olhos. O resto é consigo.

João Alferes Gonçalves

(Nota: Barrett Brown escreveu este artigo numa prisão dos Estados Unidos, onde está por divulgar informação que obteve de terceiros
The saga of Barrett Brown: Inside Anonymous and the war on secrecy)

The cyber-intelligence complex and its useful idiots

Lista dos comentários de Glenn Greenwald no “Guardian” sobre segurança e liberdade

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