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História de um doutoramento recusado

7 de Dezembro de 2011


Quando em 1978 faço em Coimbra a história oral do 25 de Abril no “Centro de Documentação 25 de Abril”, da Universidade, com a investigadora Maria Manuela Cruzeiro, vim para Lisboa convencido de que dera o primeiro passo para começar a escrever sobre a revolução.

Passados  meses, interroguei-me sobre o destino a dar ao projecto.

Por razões bem expressas na introdução do meu trabalho, (que não vou repetir), avancei para a hipótese de uma candidatura a doutoramento , com uma dissertação com o título, “25 de Abril –autobiográfico e documental”.

Precisando de um “orientador” de tese , fui pedir esse apoio (em Abril de 2009 ), ao Professor Doutor Adriano Moreira.

Recebendo-me com a habitual cordialidade que lhe é conhecida, aconselhou-me a fazer uma leitura atenta da legislação, pois estava convencido de que eu poderia “avançar” sem orientador.

De facto, de acordo com a lei, com base no meu currículo académico, eu poderia requerer essa situação.

Assim o fiz. Elaborando com todo o cuidado o processo de candidatura, enviei-o (em Julho de 2009) ao Professor Doutor Sousa Lara, Presidente do Conselho Cientifico do I.S.C.S.P (onde curiosamente fizera o meu mestrado em “estratégia global”).

Segue-se o parecer que foi dado à candidatura, (em Outubro de 2009):

………………..

“1. Desde que cumpra o regime especial de apresentação de tese previsto na lei, concordo: 2, Prossiga, solicitando a apresentação da tese em apreço. Aprovado por unanimidade 15/10/09.

O Presidente do Conselho Científico”.

……………………..

 

Através do Professor Coordenador dos Doutoramentos em Ciência Política do Conselho Cientifico, Fernando Condesso, foi-me comunicado que após a conclusão da dissertação eu deveria entregar um exemplar ao Conselho para uma análise e parecer.

Em Dezembro (2010) o trabalho estava terminado.

De acordo com o regulamento estabelecido, dirigi-me ao I.S.C.S.P. e ao seu Presidente do Conselho Cientifico, Professor Doutor Sousa Lara, entreguei o exemplar acordado.

Dois dias depois, de novo no seu gabinete, procurava-se um membro do C.C., para a elaboração do parecer técnico.

Sousa Lara esforçou-se por convencer alguns professores, sem êxito, aqueles sempre com respostas, “do muito que fazer”.

Usando de certa influência pessoal, convenceu o jovem Professor Doutor João Catarino, que recebeu a missão com pouco ânimo.

Disso me apercebi, quando no dia seguinte então o conheci no seu gabinete.

Começando por dizer que o trabalho não respeitava a metodologia científica (?), sempre me disse que iria fazer uma leitura e que dentro de dias me telefonaria.

Em Novembro (2011) mandei o seguinte mail:

……….

 

“EXMO SR. PROFESSOR DOUTOR JOÃO CATARINO
COMEÇO POR TRANSMITIR AO SR. PROFESSOR OS MEUS REPEITOSOS CUMPRIMENTOS.
CONSIDERANDO QUE ESTÃO DECORRIDOS OITO MESES, DESDE A ENTREGA A VEXA., DO MEU TRABALHO “25 DE ABRIL-BIOGRÁFICO E DOCUMENTAL”, TOMO A RESPEITOSA LIBERDADE DE INTERROGAR O SR. PROFESSOR SOBRE O PARECER, QUE TENHA POR BEM, ACHADO ELABORAR.
ESTÁ NA ALTURA DE EU TOMAR DECISÕES, PELO QUE, COM ANSIEDADE, AGUARDO O CONTACTO DE VEXA.
RESPEITOSAMENTE,

DUARTE NUNO PINTO SOARES”
coronel, eng., postgraduado, mestre.

 

…………….

Dois dias depois recebo a resposta:

…………

“Senhor Coronel,

Bom dia,

Penso ter ficado bem claro de nossa última reunião que seu trabalho não estava em condições, carecendo de uma revisão profunda, pelas razões que lhe invoquei. Sendo assim, o parecer que sobre o mesmo lhe produzi então de viva voz é definitivo e, conforme julgo ter deixado claro, não carecia de minha parte de qualquer outra apreciação subsequente.

Mais lhe disse que não tinha condições para o orientar, em virtude de, na matéria sobre que versa o seu trabalho, não me achar habilitado a tanto.

Com os meus respeitosos cumprimentos,

João Catarino

——

Coronel, Engenheiro Civil, duas Postgraduações, Mestrado (no I.S.C.P.) Curso de Estado Maior, História Oral do 25 de Abril, capitão de Abril, ex-Director da Academia Militar, 68 anos de idade, foram os “pecados” para ser mal tratado neste Instituto. Pedia-se apenas um orientador para reformulação da dissertação, o que a lei aliás faculta. Pedia-se apenas cortesia universitária.

Será que o “25 de Abril” e os seus “Capitães”, têm “ALI”, as portas fechadas ?

Nuno Pinto Soares

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1 Comentário »

  • Fernando Condesso said:

    1-Recebi o Senhor General Graduado Mestre DUARTE NUNO PINTO SOARES, tendo dado um parecer favorável no seu requerimento de admissão à apresentação direta de uma tese de doutoramento em Ciência Política, dado ter sido um militar de Abril e profundo conhecedor do processo político que se seguiu à Revolução.
    2-Recebi posteriormente, a seu pedido, um anexo documental ao futuro texto de tese, a defender perante um júri especializado na temática politológica relacionada com as mudanças políticas ocorridas no virar do terceiro para o quarto quartel do passado século XX.
    3-Entreguei, como solicitado pelo Senhor General, o exemplar com a coleção de fotocópias de documentos, base da sua investigação, e o seu Curriculum Vitae ao Senhor Presidente do Conselho Científico, para ir à apreciação do Senhor Coordenador de Ciência Política que me sucedeu em funções -uma vez que, entretanto, passei a dedicar-me, a pedido do Exmo Presidente do ISCSP,a apoiar a criação e instalação de uma nova licenciatura, em que sou o único docente da casa com obra publicada em Portugal e no estrangeiro, e para posterior apreciação final dos membros do Conselho Científico.
    4-Sou membro eleito, na qualidade de catedrático, para o Conselho Científico, mas nao estive na reunião em que o assunto estava agendada a apreciaçao do projeto de tese e a documentaçao anexa, atrás referida, porquanto estava num Congresso Mundial do Ambiente, na América latina; e nao mais cheguei a tomar conhecimento da evolução do assunto, acima tratado, de que só agora tomo conhecimento, devido a uma chamada de atenção de um colega, que me perguntou porque tinha chumbado preliminarmente a tese do senhor general, matéria que lera na Internet-clubedejornalistas, implicando o meu nome.
    5-Irei informar-me melhor dos factos; e, se a razão é a enunciada pelo senhor professor que deu o parecer, admitindo seguramente, à partida, a sua correção (pois é um docente altamente qualificado e doutorado pela Casa), estarei, no entanto, disponível para apoiar o senhor general no seguimento do processo; ou seja, na adaptaçao a critérios de redaçao científica do que já tenha escrito e na orientaçao científica futura da tese global a apresentar, se esse for o seu desejo declarado por escrita ao Conselho Científico, ciente de que o ISCSP, cumpridas as regras científicas que exige em provas de doutoramento, terá toda a honra em convocar um júri altamente qualificado e vir a contar com o senhor general e anterido Director dos Altos Estudos Militares entre o escol dos seus doutorados.

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