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Inqualificável

Os jornalistas Nuno Saraiva, Catarina Guerreiro e Graça Henriques que assinam [na sexta-feira, 18/09] no “Diário de Notícias”, o artigo em que explicam a forma como o “Público” terá tido acesso à informação de que assessores da Presidência da República poderiam estar a ser alvo de escutas por parte do Governo, deveriam ser imediatamente impedidos de exercer a profissão de jornalistas.
Se existisse em Portugal algum organismo competente para zelar pelo rigor da conduta jornalística e pela sua deontologia, se existisse, deveria, quanto antes, retirar-lhes a carteira profissional e actuar contra o director do jornal, João Marcelino.
Independentemente da notícia poder ser verdadeira, independentemente da gravidade das informações relatadas, há uma coisa básica e elementar que um jornalista não pode e não deve nunca fazer: revelar uma fonte (ainda que seja a fonte de outro). É um princípio “sagrado” do jornalismo. E tem um motivo: é que o jornalismo existe porque existem fontes. Fontes que nos dão notícias. Fontes que é sempre preciso confirmar e cruzar, sim. Fontes mais credíveis e menos credíveis. Fontes confidenciais ou não. Mas fontes que dão notícias, a matéria-prima do jornalismo. E as fontes têm de ter confiança no jornalista para lhe continuar a dar informações e pistas, e para lhe permitir assegurar aquele valor fundamental, escrito na Constituição, que é informar e ser informado.
Revelar uma fonte confidencial é abrir portas à generalização da desconfiança sobre a capacidade do jornalista guardar reserva sobre quem lhe passa uma determinada informação. E isso é contribuir para assassinar o jornalismo que, como se sabe, deve desempenhar uma essencial função de vigilância do funcionamento das instituições e da democracia.
O que o “Diário de Notícias” faz hoje é, resumidamente, denunciar uma fonte de um jornal da concorrência e revelar uma conversa profissional entre dois jornalistas do “Público”. E, mesmo que isso fosse verdade, é inaceitável e inqualificável. Porque nem tudo o que se sabe se pode escrever. Ainda que o jornal atravesse a mais terrível das crises financeiras. Não vale tudo. Por isso, a esses jornalistas, serve, como uma luva, aquela velha expressão inglesa: “Shame on you”!

P.S. – E não é mesmo extraordinário que na anunciada «ponderação» do Sindicato dos Jornalistas e respectivo Conselho Deontológico Sindicato, face à «gravidade, complexidade e melindre do “caso”» nem uma linha venha, já, de condenação desta inqualificável conduta do “Diário de Notícias”?

Paula Torres de Carvalho – Jornalista do “Público”