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Os calistos e a doença venérea do Ventura

22 de Fevereiro de 2020


Agora chegou um novo Calisto. Se é sobre racismo e parvoíces, chama-se o Ventura. O Ventura é o Zézé Camarinha do racismo. Com uma diferença: o Zézé Camarinha dava o corpo ao manifesto. O Ventura aproveita o manifesto. O Ventura é o calisto de serviço para assuntos tão velhos como a relação com o outro, o estranho, o estrangeiro. Ele é um vídeo jogo da velha pornografia. Um jovem que julga ter descoberto a posição do missionário.
(Carlos Matos Gomes)

Vi um Calisto ao vivo na TVI. Estava de barba e de gravata.
Lembrei-me do Livro de Calisto e Melibea e da puta velha Celestina, de Fernando de Rojas (1541), de onde retirei a imagem.
Calisto é definido no dicionário como um indivíduo pequeno a cuja má sombra o jogador infeliz atribui a sua má sorte. Este dá azar, como os calistos. Estamos como Calisto com uma puta velha, a Celestina. Ventura, no caso.
O calisto mais calisto da comunicação social portuguesa é Marques Mendes, seguido a pouca distância por Nuno Rogeiro. Calistos de largo espetro. Falam de tudo, da economia ao aeroespecial, das juntas de freguesia à estratégia das superpotências.
Mas há calistos em várias especialidades, fracionadas.É necessário dizer umas patetices no estúdio sobre economia liberal e o calisto de serviço é o César das Neves, ou o Lourenço. Sobre uma versão reacionária da história sai a Fátima Bonifácio. Se o assunto for ambiente sai um geota, Se for LGBT sai a Margarida Martins, se for bombeiros sai o Marta Soares, se for sobre sexo e virtude sai o padre Portocarrero, se for sobre futebol sai um estádio com coiratos e cachecóis. Se for sobre proxenetismo e turismo sai o Zézé Camarinha.
Agora chegou um novo Calisto. Se é sobre racismo e parvoíces, chama-se o Ventura. O Ventura é o Zézé Camarinha do racismo. Com uma diferença: o Zézé Camarinha dava o corpo ao manifesto. O Ventura aproveita o manifesto. O Ventura é o calisto de serviço para assuntos tão velhos como a relação com o outro, o estranho, o estrangeiro. Ele é um vídeo jogo da velha pornografia. Um jovem que julga ter descoberto a posição do missionário.
Há quem acredite nele.
Uma fação da opinião pública considera que chamar o Ventura para falar sobre racismo, fim do Serviço Nacional de Saúde, do sistema de previdência social, das reformas e do perigo dos pretos e dos ciganos tomarem o poder em Portugal é dar tempo de antena a uma bosta falante, é reconhecer a sua condição de ser da nossa espécie, de nosso semelhante. E isso, dizem-nos, é mau.
Há a outra face da moeda, o Ventura, ao aceitar ser o calisto que é chamado para dar o focinho pelas causas do racismo que o Darwin resolveu, da terra quadrada, das maldades intrínsecas dos habitantes das Ilhas do Porto ou dos Bairros periféricos de Lisboa, ao defender que é à marrada que se resolvem problemas milenares de integração de minorias nas sociedades dominantes está a fazer do calisto.
Isto é, do bufão que o senhor chama para dizer umas piadolas no final dos banquetes: “Ó Ventura, ladra lá aí sobre o que sabes sobre pretos porque os outros animais que andam por aqui aos restos não têm o teu descaramento e não se vendem tão barato como tu!” E o Ventura ladra.
Isto é, o Ventura, ao aceitar ir representar o papel do racista de serviço às TVs está a assumir o papel da rameira sempre disponível e a baixo custo.
Esta atitude de disponibilidade do Ventura a troco de exposição tem uma virtude: os seus clientes correm o risco da sífilis e das blenorragias, os antigos esquentamentos e isso é bom: os venturosos do Chega são esquentados!
Isto é, o Ventura, ao aceitar o papel que lhe destinaram, de calisto às ordens como racista, aceita ser uma doença venérea. Trata-se com creolina, com borato, com senso.

Carlos Matos Gomes, in Facebook

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