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Querem saber como apoiar os media? Perguntem aos leitores

8 de Dezembro de 2019


Não há nenhum negócio que possa funcionar sem que quem o consome lhe dê algum valor. Carros que não andam não são vendidos. Sapatos que deixam entrar água podem enganar os primeiros que os compram mas não terão futuro. Então, o que há de diferente com o jornalismo? Vale a pena perguntar, depois de uma semana em que, em Portugal, o Sindicato dos Jornalistas debateu o financiamento dos media, e, em Espanha, a Associação Internacional dos Editores (Wan-Ifra) debateu o negócio das subscrições eletrónicas. (Catarina Carvalho)

Todos, mesmo todos, temos de fazer um mea culpa. Jornalistas que foram lentos a perceber as mudanças, teimosos, na bolha. Direções que não tiveram visão, nem audácia. E gestores que não olharam mais além – ou, se calhar, era melhor dizer mais aquém, porque, no fundo, tinham era de valorizar os seus produtos, acreditar neles e no lugar que tinham nas sociedades. Deixaram-se assustar pelo curto prazo, não pensaram no longo. E, no campeonato da emoção, na economia da atenção, perdeu-se muita da credibilidade do jornalismo – e abriram-se espaços, que não mais serão fechados, para a desinformação e para as grandes plataformas, que vivem, sobretudo, do tráfego.

Mas o jornalismo é forte, e preciso. E está a tentar recuperar o tempo perdido, apostando num novo tipo de proximidade com os leitores – aproveitando as tecnologias que permitem a personalização e a capacidade de comunicar com eles, de os compreender, de saber o que querem e como agem. Caso a caso. Com informação e dados. Por todo o lado nascem casos de sucesso de modelos de negócio baseados em venda de conteúdos – o francês Mediapart, o The Guardian, o ClarínDe Correspondent, os sites nórdicos…

“Quanto mais investimos na nossa redação, mais conteúdo temos, mais histórias que são distintivas, mais subscrições podemos fazer”, disse Louis Dreyfus, o presidente do Le Monde, em Madrid, no congresso de editores. Tal como ele, que já tem 30 milhões de euros vindos diretamente dos leitores, estavam otimistas os especialistas reunidos. “Há que deixar de falar de cliques e passar a falar do tempo em página. Do engajamento dos leitores”, disse Javier Kraviez, chief costumer officer do Clarín.

Não há soluções mágicas para um problema complexo – e algures entre o otimismo de Madrid e o pessimismo do encontro de Cascais, com pedidos lancinantes para que o Estado intervenha com subsídios, estará a visão do que pode ser o jornalismo como negócio com futuro. Mas o novo contrato, mais direto, entre os consumidores e os produtores de jornalismo torna ainda mais evidente a relação de confiança: só vão pagar o que valorizarem.

As experiências mostram que o que valorizam é o mais básico: investigação, vigilância dos poderes, exclusivos, rigor e histórias bem contadas e surpreendentes.

Catarina Carvalho – “Diário de Notícias” 7 dezembro 2019

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