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As “fake news” do Livre (Manuel Falcão)

Esta semana, um novo produtor de “fake news” deu nas vistas e mostrou aquilo de que é feito. Para falar claro, refiro-me ao partido Livre, recém-eleito para a Assembleia da República. A minha acusação de que fomenta “fake news” é, aliás branda. Na realidade, o Livre esta semana espalhou mentiras, mostrou ignorância e desrespeitou a História.

Comecemos pelo que a deputada eleita, Joacine Katar Moreira, disse sobre o Parlamento. Com pouca humildade e bastante arrogância, proclamou-se uma novidade no Parlamento por ser mulher, mãe e divorciada, ignorando todas as anteriores deputadas que tinham o mesmo enquadramento – uma delas chegou, aliás, a ser presidente da Assembleia da República, eleita pelos seus pares, e nunca se gabou das suas circunstâncias.

Acusou também a Assembleia de ser um local elitista, esquecendo todos os deputados que desde a Constituinte de 1975 foram eleitos, independentemente da profissão, muitos deles operários e trabalhadores de diversas áreas de actividade, e ignorou a génese do próprio processo eleitoral democrático que a levou onde agora está.

Estamos, portanto, elucidados sobre o que a deputada do Livre conhece da História Parlamentar portuguesa e da forma como pretende que os factos sejam manipulados – a seu bel-prazer, como melhor lhe convier.

Antes destas suas declarações, numa manifestação promovida pelo Livre para a apoiar, frente ao edifício do Parlamento, um dos oradores fez uma descrição de Portugal com afirmações que manipulam a História, nomeadamente da época dos Descobrimentos, e alteram factos para que as teorias do partido se consigam encaixar. Chegou a referir-se à bandeira nacional dizendo falsidades sobre o significado dos seus símbolos, mais uma vez para que a verdade do Livre se sobreponha à verdade dos factos.

Se acham que o perigo vem só do Chega, desenganem-se: em matéria de fazedor de “fake news” e manipulador de factos, o Livre promete.

(Manuel Falcão – “Jornal de Negócios” -31 outubro 2019)