A irresponsabilidade mercenária com que esta luta foi dirigida fragilizou o sindicalismo e isso foi evidente na forma como acabaram por ter de recuar sem grande ganho aparente. A exibição de testosterona de António Costa fragilizou alguns valores fundamentais para esquerda. Mas a incoerência oportunista a que se entregou a direita que sobra, que é a que fala nos jornais e nas televisões, também fragilizou o seu discurso.

Nem vou recordar o que disseram e escreveram sobre outras requisições civis, em greves que não eram por tempo indeterminado nem tinham a capacidade de paralisar toda a economia nacional. Fico-me pela incoerência política mais essencial. É estranho ver os maiores opositores da contratação coletiva a apoiarem uma greve para que se reforcem as garantias no contrato coletivo de trabalho num sector que não o renegociava há duas décadas. É estranho ver os mesmos que diariamente defendem a flexibilização das leis laborais a baterem-se por muito mais garantias legais para estes trabalhadores. É estranho ver quem quer prémios de produtividade no lugar de rendimento fixo a defender a integração de pagamento por quilómetros no salário base. É estranho ver quem costuma defender que os aumentos salariais devem acompanhar a situação económica a bater-se por uma greve que quer fechar aumentos salariais para 2021 e 2022. E até houve quem apontasse as baterias ao poder cartelizado das petrolíferas quando foram os maiores defensores dos benefícios para a concorrência da sua privatização.

Por mim, nunca são de mais os que defendem os direitos de quem trabalha. Até os travestis políticos são bem-vindos.

Daniel Oliveira (no Facebook)

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