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Vítimas inocentes (Domingos Lopes)

25 de Março de 2017


As vítimas inocentes dos atentados hediondos dos terroristas criminosos do Daesh em Paris, em Nice, em Bruxelas, em Berlim  e em Londres fizeram estremecer a opinião pública mundial.

Monarcas, Presidentes da República, Primeiros-Ministros, autoridades religiosas tomaram posições fortes de condenação de semelhantes barbaridades.

Todos sentimos repulsa pela morte de gente cujo crime era ir buscar o filho ou comemorar o aniversário de casamento ou festejar o encontro de namorados ou passear àquela hora naquela ponte sobre o Tamisa.

Como se pode matar por matar, ainda por cima no coração de Londres, ao pé do Parlamento… o que explica (se é que há explicação) a conduta do homem nascido no condado de Kent? Era um louco, um terrorista?

Os mortos de Londres levam-me a outros mortos, a dezenas de milhares de mortos.

Em 2003, em 16 de março, há quatorze anos, José Manuel Durão Barroso recebia nos Açores o inglês Tony Blair, o norte-americano George W. Bush e o espanhol Aznar.

Foi ali que se iniciou o “momento zero” que conduziu à guerra e à invasão do Iraque contra o direito internacional e à margem da ONU.

A guerra provocou a morte de centenas de milhares de pessoas (os números vão de 150.000 a 1.000.000). Dezenas e dezenas de milhares de inocentes.

Guerra é guerra, dirão alguns.

Mas aquela guerra fundou-se numa brutal mentira e foi em nome de uma mentira que se criou o terreno para uma guerra ilegal, injusta, suja e que levou o Médio Oriente ao ponto em que se encontra.

Não têm perdão os terroristas que a frio matam com um carro ou camião ou com faca ou a tiro.

E têm perdão os mais poderosos que do alto dos seus aviões ordenaram a matança dos iraquianos e dos afegãos?

É nesta angústia que o mundo está mergulhado.

Como podem os mortos, a quem lhes foi roubada a vida de modo infame, serem considerados todos iguais?

Se não dermos conta que um iemenita ou um sírio ou um marroquino é um ser humano como um inglês ou um francês ou um romeno talvez não consigamos compreender que o mundo se tornará num local absolutamente explosivo onde o outro é de outro mundo e entre nós e os outros só poderá haver a barreira da morte.

Homenageemos os “nossos” mortos, sem esquecer todos os mortos que morreram inocentemente, os que iam do seu trabalho para casa em Faluja ou em Londres ou em Nice, ou em Berlim ou em Bagdad. Em todo o lado. Se queremos um mundo mais humano e justo.

Domingos Lopes

(O Chocalho, 24 março 2017)

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