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Habemus presidente. Não um, mas três. E o Manuel António Pina (Nicolau Santos)

2 de Dezembro de 2016


Este é o seu Expresso Curto, dez horas depois de ser conhecido o nome do novo presidente da Caixa Geral de Depósitos: Paulo Macedo.

É uma grande notícia por vários motivos.
Primeiro, pela rapidez com que um tema tão escaldante foi resolvido: desde que foi conhecida a demissão de António Domingues não passou uma semana.

Depois, porque Paulo Macedo é o homem certo no lugar certo. Conhece muito bem o sistema financeiro, tem uma longa carreira no BCP, onde chegou a vice-presidente e o seu nome não merecerá nenhumas reservas em Bruxelas – e mesmo dentro da CGD será seguramente muito bem recebido pela esmagadora maioria dos funcionários. A escolha de Esmeralda Dourado, entre outros, para a sua equipa é também um excelente sinal. E a opção do Governo em convidar Rui Vilar para presidente não executivo não só faz todo o sentido como reforça a qualidade da equipa que vai liderar a Caixa.

Terceiro, porque sempre que foi chamado a desempenhar cargos públicos, Paulo Macedo o fez com indiscutível sentido de missão. A Direção Geral de Impostos tornou-se muitíssimo eficaz e temida depois da sua passagem por aquela estrutura (ainda hoje o Jornal de Notícias revela que o fisco notifica todos os meses uma mulher que já faleceu por dívidas que não teve. Se isto não é eficácia…). E à frente do Ministério da Saúde conseguiu gerir os inúmeros interesses em confronto, mas quem mais beneficiou foram os cidadãos, sobretudo com a redução do preço dos medicamentos e a forma original como resolveu, por exemplo, o problema do medicamento para a hepatite C (o Ministério só pagava no caso dos pacientes ficarem curados). No caso da CGD, Paulo Macedo executará o plano de recapitalização sem tergiversações nem estados de alma por não ter sido ele a negociá-lo.

Quarto, porque o Governo tirou um grande coelho da cartola: não só Paulo Macedo será um excelente presidente da Caixa, como cala a oposição com esta escolha, em particular o PSD, que não ousará colocar em causa o nome e cessará a barragem de fogo que tinha assestado sobre a Caixa Geral de Depósitos, com outros interesses que não apenas o de criar um forte embaraço político ao Governo.

Quinto, depois desta decisão, tudo o que de péssimo se passou até aqui na Caixa Geral de Depósitos passa para secundaríssimo plano. E aqui entra o meu querido Manuel António Pina, que como poeta sabia mais de finanças e de tudo que qualquer outra pessoa. “Somos seres para o esquecimento (…) Por outro lado, somos feitos de esquecimentos. Como diria a Rainha Branca de Alice do Outro Lado do Espelho, todos os dias nos esquecemos de meia dúzia de coisas antes do pequeno-almoço. Precisamos absolutamente de esquecer e de saber que esquecemos. Uma má memória, como diria Marc Augé, rejuvenesce” (in “Dito em Voz Alta, entrevistas sobre literatura, isto é, sobre tudo”, Manuel António Pina, Documenta, junho de 2016).

Esqueçamos, pois, tudo o que de péssimo se tem passado na CGD. Hoje, a Caixa Geral de Depósitos volta a renascer. E a estar na comunicação social pelos bons motivos.

1º DE DEZEMBRO
Coincidência ou não do alinhamento dos astros, tudo isto se passou no dia em que regressou o feriado mais importante da nossa existência enquanto Nação, porque é precisamente a existência de Portugal enquanto país independente que o 1º de dezembro comemora.

Quem tomou a decisão de o eliminar (além do 5 de outubro e de dois feriados religiosos) foi, como toda a gente se lembra, o Governo PSD/CDS durante o programa de ajustamento, com o argumento, altamente discutível, que tal serviria para aumentar a produtividade do país. Os indicadores não revelam que tal se tenha verificado mas a decisão foi muito bem vista na altura pelos ortodoxos do ajustamento baseado na miraculosa tese da austeridade expansionista. E quem liderou a campanha pela sua reposição foi o ex-presidente do CDS, José Ribeiro e Castro, que ontem mereceu estar presente no regresso das cerimónias oficiais para celebrar o dia da independência de Portugal.

Também já se sabia que o primeiro-ministro António Costa era pela reposição destes feriados. Não se sabia, contudo, o que pensava o Presidente da República sobre o tema. Ora ontem, estava o líder do PSD, Passos Coelho, ainda a receber os aplausos dos seus apoiantes pela jogada magistral com que atirou para fora de jogo António Domingues, o presidente da Caixa que não chegou a aquecer o lugar, quando vêm de lá Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa e o ensanduícham sem dó nem piedade. “Este feriado nunca deveria ter sido suspenso”, disse liminarmente o Presidente, enquanto António Costa lembrou a importância simbólica, histórica e politica” da data e “a mensagem que nos transmite, que devemos valorizar em permanência, com sentido pedagógico”.

Mais: um pouco depois destas declarações, soube-se que Passos já carregava outra mazela no corpo. Contra o seu desejo, Pedro Santana Lopes anunciou-lhe que não será candidato à presidência da Câmara de Lisboa, deixando assim a direção do PSD sem o seu melhor trunfo para disputar a autarquia da capital com Fernando Medina. Resta José Eduardo Martins, critico assumido de Passos, para empunhar a bandeira social-democrata na corrida ao município mais importante do país. Definitivamente, o 1º de dezembro não é data que traga boas recordações a Passos.

 

 

OUTRAS NOTÍCIAS
O Congresso do PCP arranca hoje, sob o signo da renovação
. Nos 146 membros do comité central, saem 25 membros mais antigos para dar entrada a 21 novas caras. Segundo a minha colega Rosa Pedroso Lima, o próximo órgão máximo da direção comunista está mais jovem e mantém o peso dos operários na organização. O tempo passa e já só Ruben de Carvalho tem curriculum como ex-preso pela PIDE. E segundo o meu camarada Ricardo Costa, este é o congresso mais importante do ano. E o mais decisivo para saber quanto tempo poderá durar a atual solução governativa. E se Ricardo Costa o diz…Para perceber melhor o que se poderá sair do Congresso veja o 2.59 que o Martim Silva e a Rosa fizeram, com o título “O PCP resiste ou está condenado a definhar?” Bom, a resposta parece fácil: o PCP anda a resistir há décadas… mas vale seguramente a pena ver este 2.59.

O presidente francês François Hollande anunciou ontem que não se vai recandidatar às eleições presidenciais do próximo ano. Fazes bem, François. Diria mesmo mais, como o Dupond e Dupont: fazes mesmo muito bem, François. Antes saíres discretamente pela porta pequena do que expulso a pontapé pelos eleitores, depois do mandato lamentável que protagonizaste e de arredares o PSF durante longos anos do poder. E vamos ver se não abriste definitivamente a porta do Eliseu a Marine Le Pen…

O MPLA divulgou ontem à noite um comunicado, desmentindo rumores sobre o estado de saúde do Presidente angolano e do MPLA, José Eduardo dos Santos. Nos últimos dias têm circulado várias informações, em alguma imprensa privada angolana e nas redes sociais, dando conta de problemas de saúde graves do líder angolano, de 74 anos e no poder em Angola desde 1979. Hoje decorre uma reunião do comité central, aguardando-se uma possível clarificação da (in)disponibilidade de José Eduardo dos Santos para voltar a liderar a lista do partido às eleições gerais de Agosto de 2017. O correspondente do Expresso, Gustavo Costa, garante que Eduardo dos Santos sai e já há até nome do sucessor.

Entretanto, a presidente da Sonangol, Isabel dos Santos, disse ontemque a petrolífera angolana precisa de uma reestruturação financeira e de 1.569 milhões de dólares (1.476 milhões de euros) para fazer face às necessidades de pagamentos até final do ano, já que as receitas caíram 60% desde 2013. Mas apesar da penúria, Isabel dos Santos confirmou que pediu ao Banco Central Europeu para a Sonangol aumentar a sua participação no BCP para mais de 20%. Não há como começar a vender ovos aos seis anos para perceber como se fazem omeletes sem ovos…

A quatro dias do referendo sobre a reforma constitucional defendida pelo primeiro-ministro Matteo Renzi, Itália ficou a conhecer novos dados económicos que mostram o crescimento da economia e a descida no desemprego. E teve boas notícias. Para ele…

…porque há fortes efeitos colaterais da decisão que tomou de convocar o referendo: os juros da dívida portuguesa dispararam ontem em todas as maturidades, liderando as subidas que se estendem à generalidade dos países do euro. A incerteza em torno do resultado da consulta popular e das suas consequências para Itália – uma economia com elevado endividamento e que já está a braços com uma crise bancária – e para a zona euro tem colocado pressão sobre os países mais vulneráveis da periferia, incluindo Portugal.

No caso do desastre de aviação na Colômbia que vitimou a equipa do Chapecoense surgem agora informações que apontam como causas do acidente a escolha por um frete mais barato e de uma aeronave de alcance inadequado para a viagem. Poupar foi fatal neste caso. Entretanto, o governo boliviano suspendeu a licença da companhia aérea Lamia, especializada em voos charters. O ministro das Obras Públicas boliviano, Milton Carlos, declarou também que os responsáveis da autoridade do controlo aéreo do país tinham sido demitidos.

O espanhol Banco Popular vai mudar de presidente, trocando Ángel Ron por Emilio Saracho, vice-presidente do JP Morgan Chase. Ángel Ron, à frente do Popular desde 2004, tem estado sob fogo cruzado, depois do aumento de capital do banco que levou a cotação a perder terreno. O aumento de capital de 2,5 mil milhões de euros foi o terceiro nos últimos cinco anos e gerou dúvidas sobre a possibilidade de o banco conseguir cumprir o seu plano estratégico.

O escultor senegalês Ousmane Sow, uma das figuras da arte africana contemporânea, morreu ontem em Dacar, aos 81 anos, anunciou a família à agência France Presse.

No futebol inglês, nos escalões mais jovens, há 350 casos de abuso sexual sob investigação. E numa semana as denúncias telefónicas ultrapassaram barreira das 850. Na pátria onde nasceu o “football” também há, pelos vistos, outro tipo de fenómenos bem menos agradáveis.

Mas em matéria de notícias escaldantes sobre o mundo futebolístico esteja atento, muito atento, ao que o Expresso trará na sua edição de amanhã sobre o tema. É só o que lhe digo. E quem o avisa, seu amigo é. Para antecipar possíveis estragos, a Gestifute, de Jorge Mendes, já emitiu um comunicado a dizer que “Ronaldo e Mourinho tem as obrigações fiscais em dia”, tanto em Espanha como no Reino Unido.

Por cá, as viagens esgotaram e os hotéis estão cheios para a passagem do fim-do-ano, diz o Jornal de Notícias. Definitivamente, os portugueses pensam que a crise acabou, querem que a crise tenha acabado e não imaginam que a crise possa regressar. Mas é melhor não tomar nada como definitivo.

De qualquer modo, parece que já descobrimos a nossa nova Índia ou o nosso futuro petróleo, como queiramos. Com efeito, o Governo criou um grupo de trabalho para estudar as potencialidades do lítio em Portugal e se pode ser produzido lítio metal. É que o lítio metal é fundamental para produzir as baterias para os carros eléctricos que vão transformar radicalmente o atual paradigma da indústria automóvel mundial. O slogan vai ser: “Queres lítio metal? Vai a Portugal!”. Estamos ricos! Yeeees!

FRASES
O PCP mudou? “Não me posso pronunciar porque não estava cá”. Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, em entrevista ao Público. E nós a julgarmos que Jerónimo sempre tinha estado no PCP…

“As empresas não vão abandonar os Estados Unidos sem consequências. Isso não vai acontecer”. Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, durante uma visita a uma empresa de ar condicionado em Indiana, ameaçando as empresas americanas que deslocalizem a produção. É uma maneira pouco ortodoxa para salvar empregos. Mas assim o objetivo de tornar os Estados Unidos mais competitivos vai ficar mais difícil, Donald. É o que te digo. Sapo 24

“Trump é uma pessoa curiosa. Aprende muito depressa”. Devin Nunes, o luso-descendente que faz parte da equipa de transição do presidente eleito dos EUA, Diário de Notícias. Espero que não te enganes, Devin. Melhor, o mundo espera que não te enganes, Devin. E sobretudo que Donalt Trump aprenda as coisas certas que tem de aprender para não provocar o caos politico e económico a nível mundial

“Isso não está bem. Consulte e altere o plano de voo”. Funcionária da Administração de Aeroportos e Serviços Auxiliares de Navegação Aérea (Aasana) da Bolívia para o piloto do avião da Lamia que se despenhou na Colômbia por falta de combustível, Público

“Faremos o trajeto em menos tempo, não se preocupe”. Resposta do piloto do avião da Lamia, Público

Claro que havia plano B e Paulo Macedo estava desde o início nos planos de António Costa”. Raúl Vaz, Jornal de Negócios, a provar que já sabia tudo o que se ia passar na Caixa, ao contrário de toda a gente.

O QUE ANDO A LER. E O QUE RECOMENDO OUVIR.
E pronto, lá tive de me render. Depois de tantas pessoas a dizerem que os livros são excelentes, depois do próprio Presidente da República ter revelado que andava a ler a senhora, comprei “A Amiga Genial”, de Elena Ferrante, o primeiro da quadrilogia da misteriosa mas genial (segundo os fãs) escritora italiana. E para já o que posso dizer é que estou efetivamente a gostar, porque gosto de histórias bem contadas – e este é claramente um desses casos.

Quanto a música, esta noite o maestro e pianista Rui Massena dá um espetáculo no Coliseu baseado nos seus dois discos a solo, “Solo” e “Ensemble”. Ele estará, juntamente com a orquestra, no meio daquela mítica casa de espetáculos e não no palco. Vai ser bonita a festa, pá. De certeza. Se não é um fã absoluto e incondicional do Expresso da Meia-Noite, que esta noite vai abordar o Congresso do PCP, então vá já até ao Coliseu e compre dois bilhetes para logo à noite. Qualquer que seja a opção vai ficar sempre bem (digo eu que há 14 anos saio quase todas as sextas-feiras à noite com o Ricardo Costa…).

Et voilá, está servido o primeiro Expresso Curto de dezembro do ano da graça de 2016. Na segunda cá estará o jovem e azougado Martim Silva para o servir, com a sua prancha de surf debaixo do braço direito e ainda com o sal do mar nos cabelos. Tenha um excelente fim-de-semana e na segunda vá até à Caixa. Seguramente, já estará tudo melhor.

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