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Vendas de jornais: uma deplorável manipulação

1 de Setembro de 2016


Os jornais não digerem facilmente a quebra de vendas e quando os dados são tornados públicos desfazem-se em explicações canhestras para tentarem construir uma realidade alternativa. Explicações que vão desde o atropelo da estatística à manipulação deplorável dos dados. Depois de conhecidos os números das vendas do primeiro semestre de 2016, três jornais publicaram visões idílicas da sua própria situação. Invocando resultados do grupo a que pertencem, misturando diários com semanários, magazines e revistas especializadas, indicando apenas percentagens, omitindo números concretos. Enfim, uma total falta de respeito pelos leitores. (JAG)

O “Correio da Manhã”, cuja notícia menciona números e percentagens, gaba-se de que reforçou a liderança, com uma média de vendas de  97.190 exemplares a que corresponde a quota de mercado de 59,8%. Omite, no entanto, o facto de já ter vendido mais de cem mil exemplares e ter atingido uma quota de 66%. Esta situação é geradora de alguma esquizofrenia, quando se vê a notícia a afirmar o reforço da liderança e, ao mesmo tempo, o director a alertar para «a queda abrupta da venda de jornais». É óbvio que ele sabe do que está a falar.

O “Expresso” publica um texto bonacheirão sobre as publicações do grupo Impresa, como se elas vivessem no melhor dos mundos. Parece um texto escrito pelo departamento de marketing. Onde está a comparação com períodos anteriores? Qual é, de facto, a tendência das vendas? A seriedade do texto pode avaliar-se pela referência que faz a “duas” publicações do grupo: «o “Jornal de Letras” e a “Artes e Ideias” registaram também um crescimento, com quase sete mil exemplares em circulação».  Quem debitou as banalidades numéricas ignora que o título completo do “JL”, nome pelo qual é conhecido, é “Jornal de Letras Artes e Ideias”. A “Artes e Ideias” !?  Estão a gozar com os leitores.

No “Diário de Notícias”, o assunto foi entregue aos cuidados de uma subdirectora, que fez uma redacção sobre percentagens (omitindo números concretos) e baralhou vendas em papel com assinaturas digitais  e estas com acessos digitais não pagos. Para aumentar a confusão, mistura períodos de seis meses com períodos de dois (percebe-se porquê: maio e junho foram meses em que as vendas subiram por causa do campeonato europeu de futebol). Sobre o fantástico crescimento das percentagens, será bom ter em conta que um aumento de 10 leitores para 20 corresponde a um aumento percentual de  100%. E que na avaliação da eficácia da edição digital faltam muitos factores, entre os quais avulta o do número de novos visitantes e a percentagem de fidelização.

João Alferes Gonçalves

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