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Marcelo na Madeira, «agora e sempre com Jardim»

A memória é curta, sabe-se. Mas por isso mesmo é que é indispensável que todos contribuamos para a reavivar permanentemente.
Vem isto a propósito da recentíssima passagem do candidato presidencial Marcelo Rebelo de Sousa pelo Funchal.
Recebido com pompa e circunstância por Miguel Albuquerque, actual Presidente do Governo Regional, e toda a nomenclatura laranja local (que durante anos esteve sempre de joelhos e rabo a abanar perante o grande líder Alberto João Jardim), Marcelo teve ainda o grato prazer de ter de novo junto de si aquele que durante quase 40 anos foi o desqualificado e apalhaçado soba do arquipélago, que governou impunemente com direito a bombas, uma “Frente de Libertação Armada”, perseguições permanentes a cidadãos e à liberdade de imprensa, insultos soezes aos ‘cubanos’ e seus representantes e, cereja em cima do bolo, delapidador infame de dinheiros públicos. Sempre com o ámen da Igreja e dos líderes nacionais do partido laranja. (RC)

Jardim, hoje remetido piedosamente para um canto, sempre que tem uma oportunidade aparece em público como um fidalgo arruinado mas com grandes ares – e, como se sabia de antemão, não desperdiçou a oportunidade de vir publicamente manifestar apoio ao seu velho correligionário, hoje candidato laranja a Belém mas disfarçado de independente e suprapartidário…

Foi um encontro de velhos compinchas que sempre se admiraram mutuamente, mesmo quando Marcelo era líder nacional do PPD-PSD e sempre aparou o jogo antidemocrático e apalermado do soba – independentemente de uma rábula ou outra a fingir de zanga, pois ontem, como hoje, o importante era ter uma mão cheia de votos à disposição para qualquer necessidade…

E para que não pensem que eu sou um exagerado, limito-me a recordar uma pequena parte de uma extensa reportagem que, em forma de livro com 525 páginas (“Jardim, a Grande Fraude”) publiquei em 2011.

Nesse trabalho, dediquei um capítulo inteiro ao que se passava na Festa anual do PSD Madeira, um espectáculo marado, tenebroso e caríssimo, onde Jardim, sempre meio ou completamente grosso depois de visitar todas as tendinhas, bolsava um discurso rasteiro e insultuoso para os seus adversários políticos locais e brindava os cubanos – isto é, os portugueses do continente – com os dislates mais desqualificados que depois de Abril se ouviram a agentes políticos.

Pois bem: Marcelo Rebelo de Sousa, quando dirigente máximo do PSD nacional, não se coibiu de ir ao Chão da Lagoa apoiar, de uma forma escabrosa, o seu camarada soba regional. Para se ter uma ideia da sem vergonha de Marcelo – ontem como hoje, de resto – transcrevo a seguinte prosa de Mário Ramires publicada no semanário Expresso em 1997 e que integrei no meu livro:

Marcelo, madeirense também (1997)

 Pelo segundo ano consecutivo, Jardim teve a companhia do líder nacional do partido, Marcelo Rebelo de Sousa, que levou consigo Manuela Ferreira Leite, Nuno Morais Sarmento, José Luís Arnaut e Carlos Horta e Costa. Todos se misturaram alegremente com os dirigentes regionais do PSD, como Jaime Ramos e Carlos Machadinho. Escreveu Mário Ramires:

“Na hora das intervenções políticas, ‘e o Marco Paulo é logo a seguir aos discursos’ – como não se cansava de repetir o animador de serviço –, ‘autonomia total foi a palavra de ordem do 1º orador, Jaime Ramos (claro!). O homem prometia voltar a reclamar  “um país, dois sistemas” para Portugal e a Madeira, qual China com Hong Kong e Macau.

(…) Jardim subiu ao palco. (…) Botou discurso: contra o “poder socialista de Lisboa”, contra o “regime corporativista tal como era no tempo de Salazar”, contra aqueles que “têm rótulos de socialistas e estão feitos com os grandes capitalistas”.

“(…) Precisamos agora de Marcelo Rebelo de Sousa para acabar com essa pouca vergonha”. (…) Marcelo retribuiu-lhe o mimo: “Alberto João Jardim conta com o meu apoio político e pessoal agora e sempre”.

Marcelo falou de autonomia e da “vitória” na revisão constitucional, com o fim de “todos os poderes políticos importantes” dos ministros da República, e quebrou os últimos ‘muros’ quando, qual Kennedy berlinense, disse: “Na vossa companhia, sinto-me um madeirense também”. Seguiu-se Marco Paulo. (15 – “Jardim nas nuvens”, Mário Ramires, Expresso , 02.08.97)

Mais palavras para quê?

Quem quiser um Presidente tipo Marcelo que o compre. Mas depois não se queixe.

Ribeiro Cardoso