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Memória de uma “aventura” irrrepetível, nascida há 40 anos : “O Jornal”

1 de Maio de 2015


capasojornalHá 40 anos, em 1 de Maio de 1975, surgia um dos produtos mais genuínos da restauração da liberdade trazida pelo 25 de Abril: era “O Jornal”. Lançado por uma sociedade de jornalistas, segundo uma fórmula até então nunca experimentada em Portugal, seria um sopro de respiração num ambiente politicamente sufocante, resultante dos acontecimentos e das nacionalizações de Março desse ano. (José Silva Pinto)

Houve quem pensasse que era uma aposta imprudente. Mas nós sabíamos que, quando a prudência está em toda parte, a coragem não está em parte nenhuma…

No primeiro número, falava-se de uma “aventura”, só possível “num jornal de jornalistas em que estes sejam colectivamente os únicos responsáveis pela sua orientação e execução”. E assim foi que “O Jornal” se manteve intrinsecamente independente, assumindo-se como defensor de valores insubstituíveis que constituem o acervo de conquistas da democracia moderna, como são, por exemplo, as garantias de respeito pelas ideias dos outros e pela dignidade da pessoa humana.

Quando “O Jornal” apareceu nas bancas, não havia computadores pessoais, nem telemóveis, nem sequer o já hoje ultrapassado fax. A Internet só muito mais tarde viria a surgir, vulgarizando o uso do correio electrónico, actualmente tão difundido, a par do Facebook, do Twitter, do Pinterest, ou do Instagram. O Google, ou a Wikipedia, hoje tão utilizados por toda a gente, estavam ainda a “anos-luz” de distância…

Eram outros tempos, mas a inexistência dessas ferramentas hoje tidas como indispensáveis não nos impediu de fazer um jornal bem sucedido, que durante muito tempo teve um corpo de leitores robusto e fiel (os estudos de opinião apontavam para audiências na ordem dos 200 mil), mesmo quando, na década de 1980, muita da chamada “inteligentzia” da esquerda democrática se deixou encantar pelos cantos de sereia de um outro semanário, que, sob a capa do combate ao cavaquismo, se assumia abertamente contra “O Jornal”.

Em 27 de Novembro de 1992, na última capa, numa manchete gigantesca, podia ler-se “Ponto final!”. Na verdade, devia ler-se: “Ponto final, parágrafo!”. Por opção própria, a voz livre de “O Jornal” calava-se, para dar lugar a outra publicação igualmente livre — a revista “Visão”.

Para trás, ficavam 927 edições semanais, chegando-se ao fim de um caminho de 17 anos, com a sensação de que se cumprira uma etapa insubstituível na história da Imprensa em Portugal.

No meu último editorial, publicado nessa data, escrevi que fechávamos uma trincheira para abrir outra e que, tal como tinha sido preciso ter coragem para lançarmos “O Jornal” em 1975, era igualmente necessária coragem para o encerrarmos.

Na contracapa dessa última edição, podia ler-se, também em letras garrafais: “Uma equipa que sabe virar a última página tem visão para o futuro”. A palavra visão era destacada a vermelho, como que a anunciar o que aí vinha…

Seria uma nova aposta da Projornal, igualmente forte, audaz e determinada — foi o que aconteceu com a “Visão”, que já vai, com saudável vigor, no n.º 1156…

Neste tempo comemorativo do nascimento de “O Jornal”, pareceu-me justificada uma memória alargada da sua construção — e do seu desenvolvimento, até à sua metamorfose em “newsmagazine”.

É o que em seguida deixo à disposição de quem nessa memória tiver interesse.

José Silva Pinto

»»»»»»» Génese de um jornal irrepetível (PDF)

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