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«Falta autocrítica aos jornalistas»

19 de Dezembro de 2014


«Há excesso de preconceitos no jornalismo? Os jornalistas têm tendência a ter os mesmos preconceitos que os outros membros das sociedades a que pertencem. Têm é obrigação de se policiar a si próprios. Falta autocritica, muitas vezes.»

Falta autocrítica aos jornalistas

Ana Cristina Pereira Profissão: Jornalista do ‘Público’, autora de várias obras e repórter com interesse especial por temas de direitos humanos e exclusão social, como pobreza, prisões, drogas, entre outros.

“Nós, jornalistas, gostamos de pensar que somos ´cães de guarda´ da sociedade – vigiamos aqueles que detêm poder. Se somos os olhos e os ouvidos dos cidadãos, os que exigem respostas para as suas perguntas e inquietações, também devemos estar preparados para os deixar falar por si próprios – com todas as suas vozes.”  A frase consta do livro ‘Todas as Vozes – a diversidade e os media’ que é hoje lançado, em forma de tertúlia, no Porto. Uma obra da jornalista madeirense Ana Cristina Pereira.
Como nasceu o livro ‘Todas as vozes’? O SOS Racismo desafiou-me a fazer uma tertúlia e um pequeno livro sobre media e racismo. Para mim, isso seria redutor. Nós, jornalistas, não estamos a retractar a sociedade com toda a sua diversidade. E isso tem implicações, como se percebe pela ascensão da extrema-direita na Europa. Através de um programa do Conselho da Europa, ao longo de 2013 e 2014 encontrei-me com jornalistas de toda a Europa em várias cidades – Nicósia, San Sebastian, Tessalónica, Lisboa, Bruxelas – para discutir a diversidade nos media. Parecia-me que seria útil muitas das perguntas que fizemos a nós próprias serem feitas por outros jornalistas a si próprios. Algumas são muito simples. Por exemplo: ao escolher pessoas para entrevistar, procuram perspectivas alternativas às da maioria, tentam obter um grupo com várias origens sociais e económicas? Desafiei o Mike Jempson, professor da Universidade do Oeste de Inglaterra, de outra geração, de outro contexto, a ajudar-me.
Quais as vozes mais silenciadas pela comunicação social portuguesa?Não queria colocar as coisas nesse patamar. Não é um problema exclusivo de Portugal. As mulheres representam à volta de metade da população europeia e aparecem apenas num quarto das notícias e na maior parte das vezes em papéis secundários. Faltam vozes de mulheres, crianças, idosos, deficientes, minorias (étnicas, religiosos ou sexuais), pobres, muito pobres, extremamente pobres. Com a crise que assola os media, que os leva a reduzir os recursos até ao limite, faltam até pessoas que moram fora dos grandes centros urbanos.
Há excesso de preconceitos no jornalismo? Os jornalistas têm tendência a ter os mesmos preconceitos que os outros membros das sociedades a que pertencem. Têm é obrigação de se policiar a si próprios. Falta autocritica, muitas vezes. Por que continuam alguns jornalistas a escrever a etnia dos suspeitos ou condenados por crimes quando essa informação não é relevante para compreender a história, por exemplo? O programa de que falei há pouco, o MEDIANE – Media na Europa para a Diversidade Inclusiva, serviu, entre outras coisas, para construir um instrumento de automonitorização. Vale a pena fazer o teste, que está acessível no endereço:
http://www.coe.int/t/dg4/cultureheritage/mars/mediane/default_en.asp

Ricardo Miguel Oliveira – “DN Madeira”, 19 dezembro 2014

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