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Tocam os sinos a rebate na Madeira…

27 de Julho de 2014


Este escândalo nacional, que nos custa a todos nós três milhões de euros anualmente, é o Jornal da Madeira, um jornal diário distribuído gratuitamente na Madeira, propriedade do governo regional em cerca de 99%, pertencendo à diocese do Funchal (!) o restante. Só na Madeira… (Francisco Teixeira da Mota)

Tocam os sinos a rebate na Madeira…

“Estamos perante um activismo nervoso do capitalismo selvagem madeirense, aconchegado pela maçonaria e por Lisboa, no sentido de, aproveitando as mudanças, terminar com o período da vida madeirense em que houve incontestável separação entre o poder político e poder económico, para, de novo, subordinar o arquipélago à força do capital, estabelecer hierarquias sociais e controlar a opinião pública.”

As palavras do presidente do Governo Regional da Madeira publicadas no Jornal da Madeira na passada quarta-feira servem de introdução a um texto em que o “nosso” Kim-Il-sung/Kim Jong-il profere uma “sentença de morte” contra os seus putativos sucessores.

Serão traidores ao PSD e à Madeira todos aqueles que não apoiarem a manutenção de uma situação ilegal e escandalosa, verdadeiramente terceiro-mundista, que só continua a existir na Madeira graças à conivência do poder central, nele se incluindo não só e naturalmente os deputados do PSD como o próprio Presidente da República e até – esperava-se um pouco mais… – o actual ministro com a tutela da comunicação social.

Este escândalo nacional, que nos custa a todos nós três milhões de euros anualmente, é o Jornal da Madeira, um jornal diário distribuído gratuitamente na Madeira, propriedade do governo regional em cerca de 99%, pertencendo à diocese do Funchal (!) o restante. Só na Madeira…

Suportado pelos financiamentos anuais do governo regional, com um passivo de cerca de 50 milhões de euros, com dívidas a instituições bancárias na ordem dos seis milhões de euros, considerado pelo Tribunal da Contas como tecnicamente falido, o Jornal da Madeira durante mais de três décadas foi o órgão de propaganda do PSD da Madeira e do governo regional. Actualmente, já nem isso é, tendo-se tornado num instrumento exclusivo da estratégia pessoal do presidente do governo regional que o utiliza para ir distribuindo bordoada aqui, bordoada ali, já não só na oposição política, no Diário de Notícias da Madeira ou no correspondente do PÚBLICO na Madeira, mas nos seus próprios correligionários.

Escreve o presidente do Governo Regional da Madeira: “O candidato do capitalismo/maçonaria está escolhido desde 2012 [refere-se a Miguel Albuquerque, ex-presidente da Câmara do Funchal, o  primeiro social-democrata a concorrer contra si à liderança do PSD em 38 anos, conseguindo uns surpreendentes 49% dos votos]. Outros ‘candidatos a candidatos’ [refere-se a Miguel de Sousa e Sérgio Marques que defendem a privatização do Jornal da Madeira ou a devolução ao seu antigo proprietário, a Diocese do Funchal, com a saída do governo do seu capital] que aparecem na folha dos Blandys [refere-se ao Diário de Notícias da Madeira detido a 60% pelo grupo Blandy e 40% pela Controlinveste – Declaração de interesses: já colaborei como advogado com o Diário de Notícias da Madeira] a atacar Companheiros, o próprio Partido e o Governo numa atitude da mais reles falta de carácter, não são mais do que instrumentos utilizados para abrir caminho ao verdadeiro candidato dessa gente…”

Para o governante regional a questão é clara e não pode ser acusado de falsos pudores, já que o afirma com todas as letras no Jornal da Madeira: “A sobrevivência do PSD/MADEIRA como Partido hegemónico, autonomista e independente do poder económico passa por um futuro líder que não se baixe ao propósito de encerrar o Jornal da Madeira.

Desta vez não é a surrealista defesa do pluralismo na comunicação social madeirense que é apresentada como justificação para os milhões de euros públicos que têm sido vazados numa folha propagandística ao melhor estilo dos ditadores do terceiro mundo. Não, a questão é outra: o Jornal da Madeira, afirma-o o presidente do governo regional, é uma peça essencial para se manter o regime madeirense tal como entende que deve existir: subordinado a uma concepção totalitária do poder em que o mesmo é exercido por um partido hegemónico, com um controlo quase absoluto sobre a sociedade madeirense – quem não é por mim, é contra mim, numa espécie de “gonçalvismo” conservado em “poncha” – e é sustentado num modelo económico e social completamente dependente do poder político-partidário.

Francisco Teixeira da Mota – “Público” 25 julho 2014

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